quarta-feira, 11 de maio de 2016

Austeridade

O conceito já não é recente, nem foi utilizado só agora, com o significado de que é preciso cortar na ração dos povos, e economias, e países que têm dívida avultada. Para tornar a pílula mais digerível aos espíritos simplórios, confunde-se deliberadamente uma gestão familiar doméstica com a gestão da economia dum país. Quando nada têm que ver, mas adiante. O conceito está nas raízes do pensamento liberal, afinado pelos teóricos da escola de Chicago. E significa basicamente que "quanto menos Estado, melhor é o estado"; quando menos funções o Estado desempenhar, mais bem governado é um povo e uma economia; porque é da natureza de tudo quanto é estatal ser desperdício; um gestor eficaz é privado; e quanto menos regulação e intromissão houver, melhor será!
Daí resulta que, quanto mais se cortar na Educação, e na Ciência, e na Saúde, e na Segurança Social, e na protecção aos mais carenciados; quanto mais o Estado abdicar das suas funções; quanto menos direitos tiver o trabalho, e menos meios forem gastos em salários e pensões; quanto menor for o número de magistrados, e professores, e polícias, e médicos, e enfermeiros, e auxiliares, nos variadíssimos patamares da administração; quanto mais as empresas, os seguros, os bancos, e a economia forem deixados ao mercado... mais bem governado é um país. Austeridade significa, por conseguinte e apenas, reduzir o Estado ao mínimo possível.  
Reagan e Thatcher foram, a seu tempo, os coveiros de serviço a este cemitério absurdo e criminoso. E a insana Dama de Ferro resumiu tudo numa frase: Essa tal de sociedade é coisa que não existe! O que há são apenas indivíduos! Uma tal aberração sociológica vomitou-a ela em finais da década de setenta.
Esta treta é sobretudo eficaz em sociedades precárias e desinformadas, como a portuguesa. Porém, historicamente, e como se começa a ver, as contradições e absurdos a que este pensamento leva acabam por explodir.