domingo, 31 de agosto de 2014

É possível

Construir casas discretas, adaptadas ao clima e às precisões da vida, que não berram na paisagem, nem são montadas em escadarias que ninguém subirá. Nas Antas são assim.

O castanheiro da guerra

Nas Antas houve uma guerra de que a história não reza. Ficou este castanheiro e o sinal dela.
Sem vergonha nenhuma, a dona dele diz que é o maior da Europa.

Exageros

É este o menir do Vale da Maria Pais (a mesma da Ribeirinha), na margem do rio Torto.
Ele delimitava territórios?! Ou seria antes um Viagra metafísico, da botica de alguma divindade exageradamente pródiga?!

Antas

Foi aqui o princípio das Antas, na Lameira de Cima, no cimo do outeiro. Bem à vista dos Gatos, e da Meda, que o não eram ainda. E do Penedo Durão, e da Marofa, lá ao fundo.
Bem à vista, que na altura não havia satélites, e já faziam falta.

Como todas as cabras

Esta também tem os seus destemperos. Mas dá leite!

sábado, 30 de agosto de 2014

É positivo

Ver a França a bater na parede. Porque tudo o que arde cura.
Isto se os franceses resistirem entretanto às sereias da extrema-direita!

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Flash 4

O do rabo longo

O abelharuco, que tem o rabo longo, passa o tempo a estudar o relvado, saltitando entre a faia e a figueira. Não são, a bem dizer, os figos que o motivam, mas os grilos. Quando algum se arrisca no carreiro mergulha em cima dele. Crucifica-o no bico, vai sentar-se num galho e come-o. Passou a manhã nisto.
Afora isso abriga-se na sombra e alarga as penas à brisa, a refrescar-se. Só volta ao chão se um grilo se aventura.
Mas mal a gralha, que tem a fala dura, espanejou as asas e desce do carvalho, logo o abelharuco desampara o relvado. Esquece grilo e tudo.

Bancos alimentares

Aqui há uns anos, antes de ser locutor voluntário na Sonora, trabalhei uns tempos no banco alimentar de Perafita. O banco recebia donativos em grandes quantidades, da indústria de conservas agro-alimentares. De Alcobaça chegavam-nos camiões de latas de feijão, de pastas de tomate, de frascos de grão-de-bico e feijão-frade. Sempre que nas linhas de fabrico uma máquina qualquer maltratava uma lata, acabava ela rejeitada. Transformava-se num donativo que rendia isenções, na contabilidade das empresas conserveiras. Mas as latas agredidas apresentavam diversos graus de lesão, muitas delas eram lixo puro e simples. Porém outras mantinham qualidade, perdendo embora estatuto de mercado.
Para lhes fazer a triagem, havia no banco alimentar uma secção de entrada, rodeada de altas vedações. Esses e outros donativos passavam todos por lá. Chamava-se o Tarrafal, e eu era o seu director. Fazia a triagem do que considerava consumível, e do que perdera préstimo. Milhões de latas e frascos passaram-me pelas mãos.
Para fazer essa destrinça, utilizava eu uma ciência empírica. Muitas vezes aquecia o produto e provava-o ali mesmo, outras levava-o para casa e cozinhava-o, outras ainda utilizava os serviços do laboratório de análise duma universidade do Porto.
Nunca fiquei mal disposto, nem sofri de indigestões, nem me consta que alguém tivesse dores de barriga, ao consumir os produtos do banco. E só uma vez duas freiras piedosas, duma associação de caridade, recusaram receber um par de latas que estavam sem rótulo no cabaz semanal.
No Tarrafal, as paletes dos caixotes que chegavam amontoavam-se em rimas encostadas à parede, e eu ia-as retirando umas atrás das outras. Até que a páginas tantas, num certo minuto duma manhã assinalada, precisei de tomar um café. Tranquei o Tarrafal e fui à máquina. E a dada altura ouvi um grande estrondo. Duas paletes lá do quarto andar tinham desabado exactamente no ponto onde eu estava há um minuto a despachar as latas.
Nesse tempo eu era jovem, não tinha ainda que ratear energias. Mas achei que 300 quilos a desabar-me no lombo era um peso exagerado. E fui-me embora do banco.
Foi então que comecei a apanhar nos costados com uns poetas da Sonora! Entre tara e peso bruto, mal imaginava a tonelagem duns escriturários que lá andavam a escorregar das estantes, prontos a cair-me em cima! E que eu, naqueles começos, não podia recusar!

Dias brilhante

O sr. Brilhante Dias, ilustre apoiante de Seguro, apareceu a dar um grande salto em frente. Segundo ele, António Costa devia abandonar com urgência os espaços mediáticos em que tem voz pública, como por exemplo a Quadratura do Círculo, ou a coluna do CM. Isto em respeito pela lisura democrática e a ética republicana.
Em rigor, o que dava muito jeito ao sr. Dias brilhante era que o Costa perdesse mesmo a fala. Então é que ficaria em igualdade perfeita com os mortos que também apoiam Seguro, e com os militantes que não precisam de falar para terem as cotas em dia.
E talvez venha a consegui o que pretende, se prometer à Virgem ir a pé a Fátima. A santinha é de grande virtude, e não deixaria de lhe fazer o milagre. Não foi ela que intercedeu há tempos na avaliação da troika, a contento de Cavaco, um venerando que também quer o Seguro?

Luxos

Seja a pé, seja a cavalo, passo muito do meu tempo a carpinteirar frases, a pesar palavras, a medir-lhes timbres, harmonias e rigores. Quando vou na estrada, sucede-me dar mais atenção a estas ocupações do que ao percurso. E utilizo um pequeno gravador de mão, para que as ideias não fujam.
Um dia vinha do Porto, com 50 quilómetros para fazer até Albergaria, e entrar na A25. A dada altura reparei na paisagem e não a reconheci. Hesitei, pus-me a olhar, pouco depois chegava à Mealhada.
Insultei-me agrestemente, só me restava encontrar alternativa. Mas há males que vêm por bem. Acabei a empanturrar-me no Pedro dos Leitões, esse luxo que me não fazia falta.

Humanismo e Treblinka

«A propósito dum deputado da República que invocava o humanismo como legitimação ideológica da lei agora aprovada, que criminaliza o abandono e mau trato dos animais (...).
Não é fácil desmontar as falácias e denunciar os encantos do humanismo hegemónico 
— esse discurso das boas intenções e do senso comum que dispensa qualquer pensamento. E é certamente chocante para quem está imerso nele e não faz qualquer esforço para vir à tona, pois só sabe respirar nesse meio, receber a notícia de que o nazismo foi um humanismo. Claude Lévi-Strauss fez um requisitório ainda mais completo: o humanismo está implicado em “todas as tragédias que vivemos, primeiro com o colonialismo, depois com o fascismo, finalmente com os campos de extermínio”. É muito crime para tão beata entidade. Os animais não sabem que nós lhes demos nomes, que os classificámos e 
categorizámos, que escrevemos que eles não tinham alma e que não eram dotados de logos (aquilo que faz do homem um “animal político”) e, mais recentemente, que eles não podiam ser sujeito do direito porque não são um sujeito moral. Os animais não sabem, tão-pouco, que passa neste momento um anúncio na televisão, da cadeia de supermercados Intermarché, onde se vê um pastor muito urbanizado e com aspecto de “empreendedor”, no meio de um prado viçoso, a olhar com alegria os bois e as vacas a pastarem. Esta cena bucólica, que faz lembrar a pintura inglesa do século XVIII, fecha com um incitamento a comermos bifes tenros e seleccionados das castas mais genuínas da espécie bovina. O humanismo é este anúncio e Treblinka é já ali, num supermercado perto de nós.»
[António Guerreiro, Ypsilon]

Pombal e Pombal

Os lastimáveis ranhosos que aí andam pelo governo outra vez tiveram que engolir a baba que bolsaram. 
Em 2011, mal chegaram a São Bento, suspenderam logo o túnel do Marão. Que o Sócrates era um ladrão, um vigarista, um tirano prepotente, e levara o país à bancarrota. Agora retomam o plano, por 150 milhões, para completar a A4.
Com uma vénia ao comité central, que ajudou a entronizar o triste Passos, aí fica este cotejo entre Pombal e Pombal. Exactamente.
Entre um facto e outro facto passou um quarto de milénio. E nada na nossa vida parece ter mudado.


Viradeira

O facto é que depressa nos cansámos. De fazer andar as fábricas de panos, de plantar vinhas novas, de aprender alguma coisa nas escolas, de blasfemar contra a fatalidade. E de ver espirrar o sangue azul dos Távoras, que nos enterneceu o manso coração. De modo que, morto el-rei, voltámos aos marialvas, às procissões, à fadistagem e aos pátios das cantigas.
Ele havia umas estradas, no reino, por fazer. E logo se mandou que uns alvenéis lavrassem, numa serra, uns marcos monumentais, para assinalar cada légua aos viandantes. Dispunha cada marco dum relógio de sol. Porém algumas léguas terminavam à sombra, como é frequente acontecer. E, ou bem que se ofendia o rigor das medições, ou se esbanjavam as custas dos relógios.
Não chegou o desempate a ir a cortes, nem se lhe alcançou resolução. E as estradas lá ficaram por fazer.
Veio-me à lembrança um tal aperto a propósito duma linha de comboio, que também anda aí nas mãos da viradeira.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Flash 3

Questão com lágrimas

Uma veio do Brasil e por força há-de chorar todos os dias. Duas vezes. Faz-lhe bem, ajuda a alma, não sabe explicar porquê.
- As saudades da família, do calor…
A outra veio de Angola mas não gosta de chorar, que lhe dá cabo dos olhos. E os olhos são o principal.
- O coração mais os olhos…
Saem ambas na praça dos Combatentes. E eu fico-me sem saber se é melhor cuidar dos olhos, da alma, ou do coração.
Vem-me à ideia que sou homem, proibido de chorar. E lá me livro destas inquietações.

Relvas e Ruas

A insolvência de dezenas de autarquias, que finalmente estoirou, levanta-nos três questões. À primeira sublinha a gestão aventureira e o duvidoso papel dos bandos autárquicos do PPD, ao serviço do poder local durante as décadas democráticas. Sempre dirão os vendedores de banha de cobra que também nessa questão o PS é igual ao PPD, se não for ainda pior. Mas essa jaculatória já é um lugar-comum do ritual sectário, e não resiste a uma isenta contabilidade.
À segunda levanta-nos a questão da organização do território, e da reforma administrativa dos municípios, tão aconselhável como necessária, tão oportuna quanto urgente. A que existe já terá 200 anos, é mais que um anacronismo.
E à terceira escancara-nos aos olhos a lastimosa política que o governo praticou nesta matéria, pela mão de Relvas e Ruas.
Há 4 anos, quando a troika aí entrou, pôs a questão nos seus devidos termos. Talvez fosse a única questão em que a troika estava cheia de razão! Era preciso reorganizar o território e combater a hidra, reduzindo os municípios. Mas os cretinos que nos têm governado meteram o rabo entre as pernas, e reduziram o assunto à liquidação dum milhar de freguesias. O país não ganhou nada com isso, nem a hidra perdeu qualquer cabeça. Quem perdeu foram as populações mais isoladas, que viram agravada a indiferença e o desprezo do Estado pelas suas vidas. Ficaram elas mais abandonadas. Mas foi resguardado o feudo, e alimentado o lóbi autárquico do PPD.
Salvo raras excepções, nas freguesias não se edificam condados, embora a compra de votos nas eleições seja um lugar mais comum do que parece. Ao contrário dos municípios, que muita vez têm sido lugares de corrupção e nepotismo, de compadrios manhosos, de negociatas obscuras e de feudos de caciques.

Três razões

Mais que bastantes! A imaginação narcísica e a desvergonha deste 'manequim inútil' não tem servo-freio!

17%

Lá como cá, com semelhante percentagem nas sondagens, resta ao governo do Hollande degradar-se, até o PS francês lamber o pó do chão. 
Lá como cá, infelizmente, não existe outro lugar por onde as coisas passem. Isto ao contrário do que vêm repetindo umas seitas inúteis, que andam aí de missal na mão.
Só depois disso poderá virar-se a agulha da austeridade política, se entretanto os franceses resistirem à extrema-direita.

Estou farto!

Mais um!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Flash 2

Saber antigo

A menina era gentil. E bonita, santo Deus! Da ementa que me trouxe constava xôpa grelhada.
Pareceu-me estranho. Pedi explicações.
- É um peixe do mar, sei lá!
Fiquei na mesma, e logo ela harmonizou. Vira a página ao menu, paxpada no carvão.
- Come e cala-te! – disse eu. A rosnar com os meus botões.

Corelli

La Follia. https://www.youtube.com/watch?v=VHRdFILo_Yw

Erínias

Nessa altura a messe da base aérea era um oásis, uma espécie de última fronteira. Para lá dela restava só sonhar com bailarinas inglesas, que vinham de Moscavide a cavalgar um can-can pelos bares da baixa de Luanda, enquanto sorviam gargalhadas de champanhe dos roceiros do café.
O tecto do bar da messe era o sinal duma antiga idade de ouro, dos tempos originais, quando tudo estava ainda concentrado nos Dembos do Angola é nossa. Havia pintado nele um firmamento, com as constelações todas do hemisfério Sul. E tinha duas majestosas colunas de som, que vieram da Inglaterra, e mais pareciam as costas dum sofá.
O Vasco tinha morrido, o Manel fora com ele, do Raul já poucos se lembravam, vitimado à descolagem por um compressor gripado. Eu escapara há pouco duma alhada, de que só a juventude e as divindades dela me livraram, com rasgões fundos na alma. E aguardava retirada para Lisboa.
De forma que à noite, estendidos no tapete, berricávamos dois copos, enquanto ao fundo uns casais de residentes tricotavam conversas de mulheres. Nós revíamos o can-can das inglesas, e deleitávamos o ouvido nos altifalantes com as badineries do Bach, nas versões híbridas do Jacques Loussier.
Uma noite achei melhor promulgar um edital: Faça deste lugar uma sala de música, e não um pátio onde cacarejam galinhas! E afixei-o na porta.
As mulheres das conversas olharam-me sem mercê. E fizeram queixa ao comandante.
Sabendo muito bem no que se achava metido, o comandante salvou-me da fúria das erínias.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Palavras para quê!

Trancoso é uma autarquia que foi gerida pelo PPD desde o princípio do mundo, desde que há eleições. Nas últimas autárquicas mudou para O PS.
O novo Presidente foi entrevistado pelo jornal O Interior, no dia 21-08-2014:
(...) 
P – Como está a situação financeira do município? Já terá um levantamento, ainda que porventura não exaustivo, da realidade atual das contas, quanto deve neste momento a Câmara de Trancoso?
R – Essa é a grande preocupação deste executivo. Nós herdámos uma situação muito pesada. O endividamento é monstruoso, ou seja, para além dos 12,3 milhões de euros que constam no portal da transparência dos municípios, que já era muito, há uma outra dívida muito, muito significativa da ordem dos 9 milhões de euros e que resulta da parceria público-privada para a construção de apenas três equipamentos: a construção da central de camionagem com custos de 2,6 milhões de euros, a requalificação do campo da feira que custou 3,3 milhões de euros e ainda um equipamento em Vila Franca das Naves com 1,8 milhões, tudo isto sem qualquer financiamento e sem criar um único posto de trabalho. O campo da feira mais não é que um mero parque de estacionamento durante grande parte do ano com meia dúzia de viaturas e essa parceria público-privada custa, por dia, 1.100 euros ao município até 2034. Veja a situação pesada que resulta desse negócio!
P – Acha que o município vai estar hipotecado durante 20 anos por causa dessa parceria público-privada?
R – Não tenho qualquer dúvida. Não conheço nenhum município do interior, pequeno como o nosso, com uma parceria deste género. (...)

A bancarrota

Estoira o regabofe da hidra das autarquias, (a mais endividada por cabeça é a de Fornos de Algodres, esse Olimpo!) que a troika levantou desde o primeiro dia, e que o Relvas e o Ruas silenciaram de pronto, de rabinho entre as pernas, perante o lóbi autárquico do PPD.
Aos facínoras deste governo (e aos seus acólitos no parlamento) tem bastado como alvo e justificação, nestes quatro anos, o cabrão do Sócrates, que levou Portugal à bancarrota. Da qual só nos libertou a generosidade solidária dos nossos credores.
Sócrates não levou a bancarrota nenhuma. Este Portugal é que mete dó. E as falsas elites políticas a que dá origem o primarismo básico dos portugueses é que são a bancarrota personificada! 

À manhã que hoje apareceu pingona


Com saudades já do Verão, a luz divina de Sorolla.

O bouleversement

A reversão destas políticas suicidas, numa Europa submetida ao chicote austeritário da Alemanha, é uma questão de vida ou de morte.
No meio do estardalhaço, com a França a bater numa parede, o bouleversement começa. Dentro dos socialistas franceses, onde é que havia de ser?!
Veremos o que fazem, os povos europeus, das direitas extremas que aí andam. Prontinhas a atraiçoá-los, como cá!

Flash 1

[Sá Nogueira]
Litografia

Então a mãe voltava-se para a janela, creio que para ver melhor e não errar. Entalava o corpo da galinha nos joelhos, a esquerda a segurar-lhe a cabeça por cima da tigela, enquanto a mão direita lhe apontava, ao comprido da crista, o fio duma faca.
A galinha esperneava ao golpe na cabeça. E à medida que o sangue gotejava, tingia-se a malga de vermelho, até ela quedar apaziguada.
A mão que, às manhãs de gelo, me trazia à boca ainda adormecida uma colher de mel, era a mesma mão que manejava a faca.
E agora que eu já cresci, e me fiz velho, e descobri que todas as galinhas têm alma igual à minha, como é que eu resolvo isto?

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Se tudo for rigorosamente assim...

Convirá sumamente calibrar as bússolas!

Leitura(s)

Dos pontos de vista expressos quando esta obra saiu, em finais de 2012, chegaram-me ecos bastantes. E um deles houve que me deixou perplexo. Ainda hoje me deixa, e é só por isso que volto à vaca fria.
A obra é um relato de viagem, a começar num ponto e a acabar noutro, a percorrer mil lugares. Nenhum deles vem no mapa. São tão insignificantes que só existem no texto. E o viajante (confessa-o mais que uma vez) vai à procura dum país (que é o seu).
No final termina, resumindo: Agora de longe veio, à procura dum país, sem o achar. Que Portugal nasceu do capricho dum príncipe. E dele nem os portugueses fizeram um país, distraídos a vadiar por sertões a cavalo no vento, nem encontraram, no vasto mundo inteiro, quem por eles o fizesse. Ficaram com a paisagem, que povoaram de desespero. E acolheram-se a uma loucura mansa e fatalista, que pastoreia as almas devolutas e ilude a realidade. Precariamente sobrevivem nela. (...)
Este leitor começa por confundir o viajante, (que é o locutor do discurso e só existe lá dentro), com o autor que produziu o texto, e peregrina cá fora. Mas isso não é, neste caso, um pecado capital.
O que mais me intriga na sua leitura é quando afirma: É um olhar de crónica magoada e pessimista, este de Jorge Carvalheira, que parece procurar a desgraça e o confronto, numa pose de superioridade moral (...) mas também numa aceitação impotente do fado lusitano.
Ora este Jorge Carvalheira reconhece a todos os leitores a liberdade inteira de serem simples e optimistas, de terem alma humilde no lugar duma arrogante, de lerem com mais proveito as obras pias da auto-ajuda, de usarem nos olhos filtros cor-de-rosa, ou mesmo palas de mula. Respeita-lhes essa liberdade. E reivindica a sua, de não fechar os olhos como autor.
Mas o pior vem no fim. A obra aparenta uma vindicta pessoal contra o destino, como se fosse possível vingar a vida numa viagem. Lê-se, por isso, como um romance.
Este leitor vê, na leitura dum romance, um exercício que não leva a sério. Faz mal, mas isso é com ele, disso não se trata aqui. Menos sério ainda é lançar mão duma pretensa crítica psicanalítica, e pôr-se a diagnosticar as motivações do autor. Ainda por cima este autor que afinal é um desperado, um inconformado com o destino, um revoltado com a sua mala-sorte, que escreve um livro para se vingar de tão madrastona vida. 
Há leitores que nunca farão ideia da canseira que dão. Quanta vez sem a merecerem.

Campanhas

Ninguém tinha convocado cortes. Nem elas faziam falta nem viriam a propósito. É claro que havia oficiais, havia sargentos e havia muitas praças. Mas nenhum deles era o terceiro estado nem o seu contrário. Cada um fazia o que lhe competia, e o ar geral era o duma república.
Até no teatro de operações o inimigo se dividia em três. Um que estava ao serviço da CIA, outro que partilhava os missais do Lenine e os sonhos do Che Guevara, e um terceiro que era mercenário de quem pagasse melhor. Vigiavam-se todos uns aos outros, e trucidavam-se com afã comum. Resolviam-nos, a nós, delicados problemas.
Foi assim, com aguda surpresa, que um dia chegou à esquadra o herdeiro da Casa Real. Havia afinal resposta ao Ultimato, uma nova farronca miguelista, era a desforra de Alcácer?! Ninguém sabia dizer. Uma voz ainda falou de jogadas demagógicas dos mandantes. Mas a malta, no geral, dispunha dum vocabulário reduzido à técnica, e dum escasso volume de conceitos. E passou despercebida a sugestão.
Sua Alteza tinha cara de menino, de rósea carnação. E respondia às ironias plebeias menos condescendentes com dois hibiscos nas faces. Guardou os pergaminhos no malão e integrou-se na rotina. Semanas depois era perfeita a uniformização republicana.
O herdeiro real trazia ao peito um brevet de pilotagem dos helicópteros da Sud-Aviation, tirado, ao que se disse, nos céus da doce França. Mas na esquadra não havia helicópteros. E andava o pessoal a deslindar a lógica daquilo, quando se soube que vinha proibido de executar missões de voo. 
Porém, o que ele não tinha era génio para ficar preso ao chão. E o mais frequente era vê-lo, de máquina de filmar a tiracolo, num simpático riso de boa pessoa, pendurar-se nos voos de reconhecimento. Não havia bombas em questão, a manobra era supostamente menos violenta, e um tal tipo de missão permitia observar o terreno em mais detalhe. Lá ia ele, encostado à tampa da cauda do Dornier, câmara em riste e dedo engatilhado, pendurado nos janelões laterais.
Uns tipos mais jacobinos cediam à tentação de lhe colar o diafragma às tripas. Era a sua pobre tomada da Bastilha. Mas sabiam muito bem como são desconfortáveis certas manobras de voo, na condição de saco de batatas. E rodavam infinitamente sobre a mata, esmiuçando clareiras, procurando trilhos, violando a intimidade escura da floresta. Então exageravam na insistência, forçavam o aperto duma volta, metiam um pé traiçoeiro, na esperança de ver a majestade, de entranha revoltada, lançar a carga ao mar. Qual quê?! Lá ia ele, rubro e alegre como as lavradeiras patriotas, enchendo filmes daqueles verdes de arrasar!
Meses passaram, o príncipe tinha feito o seu contacto aéreo com as imensidões da pátria. Para as deslocações terrestres dispunha ele de robusta viatura, com uma estranha matrícula da Europa Central. A pintura já pouco mostrava da brancura original, coberta por múltiplas camadas do pó vermelho das picadas. Mas ele recusava-lhe as lavagens. Ao mesmo tempo criava um ar disponível, e defendia a chapa das mordeduras do sol.
Dedicou-se então aos périplos terrestres. Percorria as sanzalas da Camabatela, dos sertões do Golungo, à procura de algum resto de poder gentílico. Falava com velhos sobas de alíneas surpreendentes do tratado de Simulambuco, visitava amigos da Causa onde quer que algum houvesse, refugiado no bucolismo duma roça de café. E discutia as vantagens da criação das tilápias na alimentação dos bailundos contratados.
Numa dessas excursões tive eu a dita de lhe fazer companhia, quando aguardava saída para Lisboa após um acidente grave. E pela mão dum velho fazendeiro, que trazia na lapela a barretina dos meninos da Luz, iniciei-me nos segredos do cafeeiro, nos cuidados que pede, nas ferrugens que o atacam. Vi a vasta camarata onde passavam a noite os contratados, e como na cantina ali ao lado entregavam os salários, na boca duma dívida que era uma serpente, e se reproduzia à maneira das cabeças da hidra mitológica.
Regressado a Lisboa, nunca mais voltei a Angola. E do príncipe herdeiro dos Braganças nunca mais tive notícia. Não soube dos resultados da campanha pacificadora, nem sequer se ela cumpriu os planos dos estrategas e mereceu qualquer medalha de serviços distintos. Ia jurar que alguns a terão ganho com menos boa vontade.

domingo, 24 de agosto de 2014

Quando às vezes ponho diante dos olhos

Fausto. https://www.youtube.com/watch?v=6424pZ7lqh4

Dos impostos

Tenho setenta anos de idade e o estatuto socio-profissional de oficial superior do quadro de pilotos aviadores da Força Aérea na reforma. Digo isto como metro-padrão. 
Da Pátria roí os ossos muitas vezes, alguns bem duros, a carne não a encontrei. Fiz sempre o melhor que soube e até hoje nada excluo, pois que me regem os dois princípios da Termodinâmica.
Este mês, que é o das férias, recebi a reforma da Caixa: 34,94 €. No auto-frugalismo em que me movo, não me queixo. Não sou o centro de mundo nenhum. O que sou é um privilegiado, que pode ainda espetar nas beiças deste governo que chegou da treva dum sertão, e da ministra dos dinheiros dele, e dos calculadores das pensões, um chupa-chupa das Caldas e deixá-los a mamar. 
Dois terços dos portugueses não poderão fazer isso.

Não chegou a vê-la

Do grupo todo, um dos primeiros a cair foi o Barbeitos. Tinha raízes à beira do rio Minho mas parecia alfacinha de gema. Vaidosão, amalandrado, matador, não tinha ainda uma visão do mundo, e era como se a tivesse. Até do capote da ordem fazia arma de arremesso. Transformava-lhe a gola de cardeal em setas de Cupido, no seio das melancólicas burguesitas de Lisboa. Era o meu reverso da medalha.
De brevet ao peito, destinaram-no à caça, o que era um sinal de distinção. E andava ele por lá, a encaixar os prolegómenos num T 33 da guerra da Coreia, quando certo dia as coisas correram mal. A turbina, muito antiga, era um vidrinho de cheiro, não sejas bruto comigo que eu não gosto! Era atreita ao flame-out, que significa Apagou-se! Nesse dia foi mais longe e pegou fogo.
A pista estava a dois passos, mas o instrutor deu ordens de ejecção. O Barbeitos accionou uma alavanca, levou um chuto no cu e logo se viu cá fora, de cara ao vento, sentado na cadeira. Mas a descida foi vertiginosa, porque o sistema falhou e agrilhoou-o ao assento. O pára-quedas não podia abrir, o Barbeitos acabou desconjuntado.
Lá de longe, emocionado no meio do Atlântico, eu dediquei-lhe um disco dos Yardbirds, que encontrara no PX americano. Ele havia de gostar. Eram umas aves de pátio que só mais tarde conheci melhor, no Blow-up. Essa beleza de filme do Antonioni, que é a História dum Fotógrafo
Eu são sei se o Barbeitos gostou dos Yardbirds. Mas a beleza do filme não chegou a vê-la.

Líbia

«A Líbia está no mais caótico ponto desde a destituição e morte de Khadafi . A Líbia mergulhou num inexorável processo de “somalização”. Poderia escolher outros títulos dos (poucos) analistas e jornalistas atentos à tragédia líbia. Para onde olham os europeus? Olham, e algo relutantemente, para a Ucrânia ou para o Iraque, de maior importância geopolítica. Durante semanas, os media estiveram ocupados com Israel e Gaza — de audiência garantida. Depois da morte do extravagante e fotogénico Khadafi , foram esquecendo a tragédia líbia.
Não se trata aqui de explicar a Líbia mas de apenas dizer ao que chegou. Trípoli, a capital, é palco de combates desde 13 de Julho. Milícias disputam o aeroporto, com armas pesadas. Na segunda-feira houve um bombardeamento aéreo. Na terça, disparos de rockets sobre bairros do centro. É normal o corte da electricidade, da rede de telemóveis, da Internet ou da água. Fugiram os técnicos estrangeiros.
As Filipinas repatriaram os 3000 médicos e enfermeiros que lá tinham, criando um sério problema sanitário. Em Benghasi, foi proclamado um “emirado islâmico”. Entram na Líbia jihadistas vindos da Síria, o que preocupa os Estados Unidos, a Europa e os países vizinhos. Mas uma outra coisa toca a Europa. A Líbia está pejada de africanos (e de líbios em pânico) ansiosos por atravessar o Mediterrâneo. Se as comportas se abrirem, haverá uma incomen-surável vaga de refugiados — muitos deles destinados à sepultura naquele mar a que os italianos já chamam “Cemitério”.
As centenas de milícias controlam tudo — cidades, ministérios, aeroportos e terminais de petróleo. Guerreiam-se para disputar recursos e rendas. A Líbia de Khadafi não tinha Estado, exército nem polícia. A força era monopólio da guarda pretoriana e dos espiões do ditador. A Líbia não tem as fundas divisões étnicas ou religiosas da Síria e do Iraque. Tem cerca de 140 grupos tribais. Escreveu a historiadora Linda Anderson que os ocidentais se equivocaram: a prioridade não era a democratização mas a construção de um Estado.
Os líbios elegem parlamentos. O primeiro, de maioria “islamista”, foi feito refém de milícias em Trípoli. O segundo, eleito em Junho e de maioria “liberal”, está reunido em Tobruk, a 1500km da capital, para evitar o sequestro. Apela a uma intervenção internacional e quer dissolver as milícias. Mas o parlamento não é o poder. O poder reside nas tribos e, cada vez mais, nas milícias. E os rótulos ideológicos não são para levar a sério: encobrem muitas vezes interesses mafiosos.
“Sem lei nem ordem”, morrem as normas, dissolve-se o tecido social e sobe o risco de guerra civil. O “vazio de poder” cria bárbaros e abre espaço a santuários terroristas. Que mais é preciso dizer?!»
[JAF na Revista do PÚBLICO]

Realmente muito pouco: só falta aqui um silêncio, uma afirmação e uma pergunta!
- O silêncio é sobre o que a Líbia era, no tempo do "extravagante" Kadhafi. O mundo que existe assim, não o é por mero acaso.
- Os directos e pessoais responsáveis por isto são os EUA de Bush, e os canalhas europeus da NATO, que se puseram ao seu serviço ao cheiro do petróleo, e em nome da liberdade.
- Por que julgam os fariseus ocidentais que ao jornalista decapitado pelo ISIS foi vestida uma fralda laranja, da cor das torturas de Guantânamo?

F. Couperin 2

Ensaio sobre Les Abeilles.

Ensaio sobre Les Papillons.

Ensaio sobre Le Petit-Rien.

Entre os séc. XVII e XVIII, François Couperin foi um reputado compositor, cravista e organista da corte francesa. Em muitas composições, buscou a poesia que habita a música, o que implica nela uma qualquer significação referencial, facilmente detectável. Uma vez encontrada, ela é plus belle encore que la beauté.
Correntes e movimentos posteriores perseguiram o inverso: criar a música que há na poesia, já que ambas são jogos de sons. Com os mesmos se fazem as harmonias dos acordes musicais e as palavras dum texto.

Situação quarta

Primavera indecisa

Tenho à espera a Feira Cabisbaixa atrás dum microfone, a Feira do O’Neill, a feira de nós todos, que um cego encomendou à biblioteca sonora. Mas encontro no jardim de São Lázaro a Primavera a hesitar.
As camélias já andam pelo chão e a Primavera a hesitar, incham os botões dos rododendros e a Primavera a hesitar, os rebentos das tílias a explodir e a Primavera a hesitar, os velhos da sueca, são quinhentos, a improvisar a banca e a Primavera a hesitar, e a mimosa das coxas tentadoras a faltar-me no passeio, o riso quotidiano, bons-dias mimosinha, e os dentitos de marfim, o drapejar da pestana, o peito da mimosa a faltar-me nos olhos, as formas arredondadas a morder-me no ventre e os pombos num badanal, a mulher desdentada a pedir-me um cigarro, a levar dois para a amiga encostada na esquina, a solicitar-me o favor dum lume, a mesura brejeira a agradecer-me, a aventurar se gosto de ir ao quarto e eu a dizer-lhe que não, um trunfo a cair na mesa a esquartejar a manilha e os pombos amotinados, e a mimosa que lá vem dobrando a esquina num riso de Gioconda a tentar-me de longe, os pés que já não comando na direcção dela, um instinto a farejá-la, a correr-lhe a garupa, o flanco acolchoado, o lago misterioso, quanto vale o teu riso mimosinha, a Primavera ainda a hesitar e eu a deslizar-lhe a nota na palma acetinada, um roçagar de leve, uma aflição de seda…
E vou-me então à Feira Cabisbaixa, à Feira do O’Neill, à feira de nós todos, que um cego precisa dela, e a Primavera enfim se decidiu.

sábado, 23 de agosto de 2014

F. Couperin (séc. XVII)

Sokolov. Le Tic Toc Choc ou Les Maillotins.

Candidatura

Sou candidato. A carregar num gatilho, que percute uma cápsula, que está dentro duma câmara, apontada ao meio duma testa encostada à parede, com ou sem venda nos olhos. Estou cansado de sentir vergonha e nojo!

Sebastianismo 1

Já um dia se falou «aqui» dum romance de Miguel Real, e se lamentou a oportunidade desperdiçada.
Miguel Real está na gaveta dos pensadores, dos intelectuais, daqueles cuja função é ler e escrever, pesquisar, conhecer, analisar, compreender... E desvendar-nos (a nós) a luz do seu labor, para nos servir de bússola nas selvas desta vida. Que nunca as mãos lhe doam! Porém isso cria obrigações! 
Desta feita aparece com um trabalho sobre o Sebastianismo luso, um tema a que não resisto. Trouxe-o para casa a sonhar com polémicas, que se arrastarão aqui. Ainda por cima a uma só voz. São as melhores!
Logo a abrir, uma dedicatória: Para a F., o D., a I., a B. e o A., com um amor eterno.
Maus prenúncios, para quem assente os pés na terra contingente!

Do tempo duma dama, que era de ferro e morreu insana.

Deus a guarde no inferno e tranque a porta.

Le temps des partisans

Qui ont redimé la France!

Os nomes dos bois

Entrevista de António Costa à Sic: 
«Seguro rodeou-se de mercenários, a coberto de agências de comunicação para denegrir a minha candidadtura.»
Isto assim já é falar. Finalmente é pôr nomes aos bois! Já não era sem tempo!

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

É isto!

Uma delícia, inútil e imprescindível. Como todas.

Figuras quatro

Estilhaços

Foi então, a meio duma tarde, que chegou um alferes do batalhão da Cuimba, com o pelotão de morteiros. Tinha um vago tique aristocrata, amamentava exóticas ideias monárquicas, e frequentava o quarto ano de medicina quando o despacharam para os sertões do Congo.
Estacionou os dois burros do mato em frente do que sobrava da sé catedral resumida a umas paredes, mal saudou os aviadores que despejavam bidões de gasolina nuns aviões cobertos de poeira e dirigiu-se a casa.
A mulher era legista, praticava de notária, servia de magistrada. Morava numa casa da avenida e estava ausente em Luanda, na companhia dum alferes médico.
O artilheiro reuniu o pelotão, montou nos burros do mato e regressou à Cuimba. Mandou formar no meio do terreiro, meteu uma bala na câmara da Walther que lhe pendia à ilharga, e descarregou nos miolos os nove milímetros dela.
Uma semana depois a história já estava morta. Ninguém gosta de viver com estilhaços que matam.

A mocha e a cornuda

Vi hoje à venda uma belíssima edição da Ernestina, de Rentes de Carvalho, pela Quetzal.
Finalmente bate o que vem fora com o que lá vai dentro. Já era tempo de jogar a mocha com a cornuda!

O caroço

Textos há que nem com GPS se deixam esmiuçar! Mas com jeito lá se lhes chega ao caroço.
E aqui é a velha questão de confundir a merda com a ervilha de cheiro. Há especialistas em não ver que nem toda a merda cheira ao mesmo. São tóxicos e fatais.

Siga a marinha!

Que o resto são tretas futricas!

O povo da televisão

(...) Trata-se
daqueles programas, reportagens e concursos 
frequentados por pessoas que são submetidas à 
deformação pelos próprios apresentadores, 
repórteres e entertainers para satisfazer os ditames 
televisivos do expressionismo grotesco. O povo 
construído pela televisão é degenerado, ridículo, 
monstruoso. E os seus criminosos construtores têm 
nomes publicamente conhecidos e sucesso alargado: 
são as Júlias, as Luísas, os Joões, os Manueis e os seus 
directores de programas, produtores, chefes, 
empresários, até ao topo da hierarquia. Há o “povo” 
que vem aos estúdios dos programas da televisão 
(quase sempre um “povo” suburbano que já conhece 
bem os códigos da televisão e sabe imitá-los); e há o 
povo que a televisão visita no seu habitat natural, 
geralmente os recantos profundos do país onde se vai 
em busca de arquétipos. Um e outro são descaradas 
mentiras, falsas construções que deformam até à 
degradação. (...)
[António Guerreiro, Ypsilon, hoje]

Pergolesi

Stabat Mater - Andreas Scholl/Barbara Bonney.

Coisas há que é bom rever. De horas em quando.

Auto-retrato

(O autor) nasceu na Beira Alta, em 1943. Fez a escola primária numa sala duma casa duma aldeia, onde viviam também um crucifixo e um mapa, uma ardósia, um Salazar e um Carmona. E o fantasma dum Navegador que metia medo à aula.
A mesquinha propina no seminário do Fundão permitiu ao autor escapar à condição de servo da gleba, num trato em que perdeu um amigo e ganhou outro. O que perdeu foi um cavalo baio, que um doutor qualquer tinha na estrebaria e andava precisado dum palafreneiro. O que ganhou foi o Cícero das Catilinárias.
Passados três anos já Deus Nosso Senhor o despedia, pela voz do cónego vice-reitor. Porque na vida é assim, muitos serão os chamados mas poucos são escolhidos. E o autor aproveitou, em vez de emigrar para França, para acabar o ensino secundário no Liceu Nacional da Guarda, em 1963.
Foi piloto militar durante muito tempo, em Angola salvou o pêlo à justinha, na Guiné acompanhou a agonia demente do império. E a derrocada dele trouxe ao autor enormes benefícios, isto porque Deus não dorme e faz boas escolhas, e sabe escrever direito em linhas tortas.
Das múltiplas peripécias de 1975 havia de resultar o afastamento do autor das lides profissionais, num processo que o levou à demissão, sentenciada por um Torquemada qualquer. Foi assim que o autor se licenciou em Letras, fez um mestrado em Cultura Alemã na Uninova, e passou anos a dar aulas apaixonadas.
Mas tudo se recompôs vinte e tal anos mais tarde, por decisão dum juiz que acordou bem disposto e pôs tudo em pratos limpos. O autor voltou ao seu lugar no quadro dos pilotos aviadores, e ficou a saber o que é um coronel de aviário.
Desse tempo há textos seus em várias antologias da guerra colonial, quando ainda lhe não era muito clara a linha de fronteira entre um escritor e um escrevente.
Em 2002 publicou O Mensário do Corvo. E ganhou com ele aguda percepção de que os embondeiros fazem mais falta nas paisagens do mundo do que nos escaparates duma livraria, transformados em papel inútil.
Em 2007 publicou As Aves Levantam Contra o Vento. E, graças a mão amiga, ganhou a consciência de que escreve. Depois disso assumiu a liberdade e o risco de continuar a escrever. De consciência tranquila, enquanto Deus Nosso Senhor quiser.

[Portugalmente - Peregrinação da Lapa a Riba-Côa, Âncora Editora, 2012]

Figuras três

Lolita

A adolescente pica a senha no visor e avança pela coxia. Tem um ar um tanto produzido e o visual gótico destoa. Veste de preto integral, e a mochila avantajada que tem pendurada às costas dificulta-lhe a manobra. Traz cuidada a flor da face, rigorosa, maquilhada. Quase brilha, na geral vulgaridade. Ocupa o lugar em frente, dentro da sua redoma, vê-se bem que vem trancada numa filosofia.
De peito afogado em véus, veste uma saia de bicos, por baixo duma nuvem de organdis. Traz muitos anéis nos dedos, talvez de aço, e símbolos esotéricos a pendular ao pescoço. Os traços negros que lhe ornamentam as pálpebras dão-lhe um toque de vampiro inofensivo.
Quando arrisco se já leu o Nabokov, diz que não gosta de ler. – E viste o filme?! – Qual filme?! Segue a escola japonesa que frequenta na Internet.
Cá fora vejo-a melhor. Tem pernas tortas, cambadas, e enviesa os pés para dentro. As Doc Martens são imitação chinesa.

Kouyaté

Bala.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Coincidências dum escamartilhão!

1 - Quando deixou de ser ministro dos estrangeiros de Cavaco, em 95, o líder Barroso asilou no BES. Os filhos idem.
2 - O clã BES financiou a campanha do venerando chefe do estado da quinta da coelha, em 2006.
3 - O primeiro-ministro que veio do sertão aprendeu a soletrar (e a mamar fundos) na Fomentinvest, onde pontificava a tribo BES.
Sobre o BES e os seus clãs, estamos hoje conversados. E são todos estes caralhos ranhosos que falam de promiscuidade entre política e interesses e negócios, a apontar o dedo aos tempos de Sócrates.
Com a cumplicidade do idiota inSeguro, que usa o mesmo argumento para atingir o Sócrates mais o Costa.
Vão-se foder todos juntos!

Asturias

Albéniz!

Morangos com açúcar

Em questões de aerodinâmica, a passarola era uma perfeição. Vasta asa alta com fendas, 270 cavalos acomodados num elegante nariz, um trem de gafanhoto reforçado nalguns casos, tudo junto permitia a operação em escassas dúzias de metros. Só por causa do princípio da rosa e do seu senão é que o bicho reservava, no solo, caprichos inocentes, e o motor, durante o voo, algumas extravagâncias. Mais que um cristão deu consigo plantado na picada, em sertões que não se recomendavam.
Eu levava pela trela dois novatos em preparação final. O império precisava deles, reclamava-os num berreiro, convir-lhes-ia saber o que tinham à espera, para lá do bojador. A pista da Comenda, ali ao Gavião, era o exemplo mais aproximado daquelas pistas do mato. E nós lá íamos, quotidianamente.
Deixado para trás o Rossio-ao-Sul-do-Tejo, fizemos um simulacro de aterragem forçada. O manual definia a configuração ideal para reproduzir as condições de voo com o motor parado. Depois era jogar com a altitude, escolher na paisagem um quintal disponível, e manobrar, planando, a passarola, por forma a que aterrasse lá dentro. No fim da aproximação, dava-se-lhe gás à tábua e ala moleiro!
E assim foi, daquela vez. Só que a meio da subida o motor parou a sério, e falhou o arranque de emergência. – É meu!!! – ordenei ao aspirante. A altitude ainda era baixa, do meu lado havia vinhas, e olivais, e arvoredos pelas quintas, um sarilho. E uma puta duma hélice parada, quando não devia estar. O novato, lá atrás, apertou-se nos cintos de campanha.
O aspirante lobrigou do lado dele um quintalito em pousio, eu aceitei, que remédio. Mas havia um declive imperceptível. Dum lado um pinhal escuro, era o diabo, doutro lado um sobreiral, era a mãe dele.
Ultrapassadas as cristas dos pinheiros, a altura eram quinze metros. Não havia glissagem que valesse. O declive, suave mas a descer, mostrou a cara. E as perfeições aerodinâmicas da passarola revelaram o que já era sabido: de boas intenções anda o inferno cheio. 
Metade do quintal estava passado, o trem insistia em não aflorar o solo, ao fundo os velhos sobreiros eram fatais. O elegante nariz da passarola costumava ceder, se frontalmente agredido. O motor recuava nos apoios, prendia as pernas dos aviadores por baixo do painel e churrascava-os lá dentro.
Mas a cabeça dos homens é mais perfeita que as máquinas que eles fazem. Em situações de emergência tem saídas automáticas, e o resto foi instintivo. Pranchei a cinquenta graus, pus-me a lavrar o quintalito com a asa esquerda e a perna do mesmo lado. Em vinte metros parámos. A passarola deu de rabo para a direita, dobrou-se ao meio, ficou deitada de lado, mas não tocou nos sobreiros. Ficou ela paraplégica, mas o motor não teve um beliscão.
Içámo-nos os três pela janela de cima, fomos parar a uma quinta onde havia um telefone. E o comandante: - Ora porra! Um acidente! Lá se nos vai o troféu da segurança de voo!
A quinteira foi mimosa, deu-nos aos três um pratito de morangos com açúcar, duma horta que lá tinha. Quem é que não ficava emocionado?!
Depois disso os engenheiros vieram buscar o ferido, levaram-no para Alverca, montaram-no no banco, puseram-no em marcha. E o barítono, que era da BMW ou da Piaggio, logo se pôs a cantar, todo agitado, como quem desse o primeiro recital. Vá lá a gente perceber!

Pois, pois!

O mesmíssimo discurso do filho da puta.

Um toma

Do Vale Ferraz.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Olha!

Sarabande!

Perdido por cem!

É natural ficar-se horrorizado com isto e com mais aquilo. Mas deixemo-nos de tretas! Nos últimos vinte anos, os crimes da civilização ocidental contra países e povos só podem ficar à espera de que a factura chegue à caixa do correio. 
Comecemos pelas Torres Gémeas. Não é preciso ser um crânio da NASA para perceber que o Relatório do Inquérito da América não é compreensível nem aceitável. Há mesmo sectores americanos que o questionam, sem qualquer hipótese de se fazerem ouvir. Dentro de 50 anos saberemos a verdade, quando já não fizer falta.
Do que não podemos duvidar é daquilo que se passou depois do acontecimento, e reconhecer claramente a quem é que ele serviu. O Patriot Act, o terror do terrorismo, os crimes da NATO na Líbia, do Afeganistão, do Egipto das primaveras, do Iraque, da Síria e os seus rebeldes (onde a América só não foi por puro medo!), estão aí para o mostrar: o crime serviu à maravilha os objectivos das elites políticas, empresariais e financeiras da América mais profunda.
Antes disso, o bêbado inimputável Bush perdeu as eleições para Al Gore. Mas era indispensável que ele fosse empossado, para dar cobertura ao plano. Lá foi recontada a Florida, Al Gore desistiu, o Bush foi presidente, e as Torres Gémeas impunemente implodiram.
Depois do Bush, a miséria era de tal ordem que a América sentiu necessidade de oferecer à opinião pública mundial um presidente negro, para lavar a face. Foi esse o grande papel de Obama, que muito pouco conseguiu fazer, do muito que pretendia. O próprio Partido Republicano teve fugazmente um Presidente negro, pormenor indecoroso que já nos esqueceu
Vejamos sumariamente a nebulosa das Torres:
1 - O aço da estrutura delas fundiu em partes. Mas não há toneladas de querosene a arder, suficientes para gerar os três mil e tal graus necessários à fusão. O querosene produz mil e tal graus. Mas a termite consegue-o. Foi o explosivo usado na implosão, de que há imagens claríssimas.
2 - As Torres não desabam daquele modo, a menos que sejam implodidas, o mais vulgar engenheiro-técnico sabe disso.
3 - O edifício 7, nas proximidades, não foi embatido por nenhuma aeronave. Mas desabou, exactamente como fazem as construções implodidas.
4 - O famigerado avião da Pensilvânia apenas deixou no solo uns rastos de catrapilo improvisados. Tudo o resto dos destroços se sumiu.
5 - O Pentágono foi atingido por um avião do Bin Laden. Mas é curioso que as partes mais resistentes e agressivas da aeronave (que são exactamente os dois motores) não deixaram qualquer marca no edifício, cuja parede apresentava um orifício arredondado. Quer dizer, um míssil de cruzeiro pode ter batido ali, um avião não é plausível.
6 - A história não regista nenhum caso, nem nenhuma circunstância, em que o NORAD (comando de defesa do espaço aéreo americano) tenha falhado na sua missão de vigilância. No dia das Torres Gémeas falhou.
7 - Contrariando a lei americana (que proíbe a remoção dos restos duma catástrofe antes que os serviços de investigação e justiça os libertem), os destroços do Ground Zero depressa e antes do tempo foram parar às fundições de sucata do Extremo-Oriente.
O Afeganistão, a Líbia, o Iraque das armas de destruição maciça, as ditaduras execráveis e os direitos humanos, a Síria que vinha a seguir, o Irão que não chegou... tudo isso são crimes internacionais nefandos, que a América praticou com a cumplicidade das miseráveis elites europeias, mais inglesas e menos francesas. Crimes que destruíram países e dirigentes e povos, e abriram caminho à bandidagem fundamentalista do Corão, do negrume e da sharia. Agora queixam-se e choram, como os crocodilos.

Mafia calabresa?!

Na nossa terra são uns meninos de coro!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O mundo

É maior do que parece!

Figuras dois

Responsório

Vais-me dizer que eu inventei a história. Que eu sou um cínico e a história é impossível. Andas muito longe da verdade.
O padre Abreu não é padre, nunca chegou a sê-lo. Não tem cabeça para teologias e as latinadas cansam-no. Mas veste-se à futrica, como os padres modernos, e sempre que pode exercita a função. Mora aqui na cidade. E o povo, que não separa o facto do direito, chama-lhe padre Abreu.
Razão terá, que o padre Abreu não sonha com outra coisa, passa a vida na sé. Ajuda à missa, cuida da liturgia, aconselha as devotas e decora os responsos. Já perdoou pecados capitais, e há gente que entrou no céu por sua mão.
Há tempos foi preciso enterrar um cristão, numa aldeia dessas despovoadas, onde nem padres vão. E o padre Abreu lá foi, a encomendar o defunto, a devolvê-lo ao pó. Mas os parentes vieram a saber que o padre Abreu nunca tomara ordens e temeram o pior. Puseram-lhe uma demanda em tribunal.
O padre Abreu sentou no banco dos réus a gravidade e a mansidão dum sócio do Vaticano. Alegou em defesa o serviço de Deus e afiançou as encomendações.
- Pois faça aí o responsório dum defunto! – ordenou o juiz, a esfolhear os códigos. – Já veremos se merece remissão!
Não pedia outra coisa o padre Abreu. O meretíssimo chegou ao fim apaziguado, como quem deixa um amigo em boas mãos. E absolveu o réu.

Seitas

O papa Francisco, na Coreia do Sul, beatifica 124 zarolhos duma assentada.
O grande líder, na Coreia do Norte, dispara uns mísseis que vão cair no mar.
A festa do Avante prepara a recepção da comitiva dum partido-irmão.
A minha alma fica parva com tamanho frenesi, mas finalmente percebe.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Lá vão duas!

E vão três!

Última hora!

O Tondela é bombista suicida! - anuncia o pivot, inchadíssimo com a cacha do combate ao terrorismo
O mundo já andava desconfiado. Mas uns serviços secretos amigos desfizeram o mistério e a televisão estava lá: o Tondela converteu-se à mourisma radical e anda a fazer das suas em Bagdad. 
E quem ficará surpreendido?!
Em primeiros, se um bêbado como o Bush foi passear ao Iraque, qualquer cretino lá chega. E em segundos, com a tradição milenar de desenrasca que a história inculcou em gerações de Tondelas, carregar um cinturão de petardos é uma forma muito indígena de ir fazendo pela vidita.

A Constituição

Vista daqui!

Trabalho infantil

Dentro duma robusta vedação farpada alinham-se as plantitas milimetricamente, amparadas em postes e aramados para se manterem em pé. Instala-se um complexo sistema de cortinados, que as resguardam da geada ou dum cieiro mais vivo. E cada uma tem direito à sua dúzia de pingos por minuto. Simulam chover do céu, mas pingam a meia altura, dum sistema de rega gota-a-gota.
Já vêm educadas do viveiro, com um mestrado em inovação e produtividade, onde nunca se falou de trabalho infantil. E mal lhes enterraram as raízes, desentranham-se logo em frutos, fotocópias uns dos outros.
A esperança média de vida, igual para toda a gentinha, não vai além duma dezena de anos. No dia em que o catrapilo entrar aqui, vai tudo raso para a vala comum. Ninguém se salva, pois que o estado social é uma heresia. E deste modo se garante o campo aberto às novas gerações.
Já no paraíso terreal havia árvores na horta. Às vezes duravam séculos, e tinham troncos rugosos que os pais deixavam aos filhos. Davam sombras e criavam as maçãs do fim do Verão, algumas delas com bicho. Hoje em dia já só restam ecos disso em velhas hortas austríacas, que militam na biodiversidade e cultivam o valor da tradição.

domingo, 17 de agosto de 2014

Militância

Um povo que não lê, por iliteracia, incultura ou estranha falta de jeito, só na televisão podia achar um meio muito poderoso de se informar, de se aprender e aprimorar.
Qual quê?! A televisão generalista, em particular a privada, põe a mãe a render por audiências! É uma máquina impiedosa de alienação e embrutecimento, quando não de militante avacalhamento das consciências.

Bom proveito!

É um prazer, se não for um privilégio, visitar o museu de Lamego, inesperado lugar de esmero e compostura. E encontrar nele cinco painéis que sobraram, do Grão Vasco, e quatro tapeçarias da Flandres antiga que relembram o mito do rei Édipo. E ver em São João de Tarouca o monumental sarcófago de granito do conde de Barcelos, o dom Pedro das Linhagens, que o rei Dinis engendrou por aí, à caça do porco-bravo...
Eu quero lá saber dos tesouros da Casa de Sabóia, e dos trabalhos duns pós-modernos confusos que a capital reservou para ruminação exclusiva! Que lhe façam bom proveito!

Don't shoot!

A América sangra, em Ferguson, Missouri. E quem é que estranha isso?!

sábado, 16 de agosto de 2014

"Vem de muito longe"

Nem mais!

Figuras um

Bonitona

Era uma silhueta vestida de preto, debaixo dum chapéu de palha de aba larga, a resguardar-se do sol. Aparecia ao pé do poço, acarinhava as sécias, e lembrava à minha mãe um pingo de água aos manjericos.
- Ué! Ué! Tens aqui um morgado!
Eu estranhava-lhe o rouquejar raspado, os modos brandos, as manchas escuras nas costas da mão. O nome exótico punha-me a sorrir. E conheci-a melhor muito mais tarde, muitos anos depois dela morrer.
Casou-se com o Cipriano e logo foi para o Brasil. Viveu por lá, em Santos, muito tempo, vendia frutas estranhas num mercado. E um dia que regressou era diferente. Recusava as novenas na capela, e recitava um remoto padre-nosso, falando não sei com quem. Grande foco, vida do universo, venha a nós a tua luz, e cumpram-se as tuas leis, neste e nos outros planetas. Nem a Nossa Senhora a percebia.
Quando o Cipriano lhe morreu não deitou uma lágrima. Vestiu-lhe o fato melhor, fez-lhe uma festa na cara e despediu-o:
- Adeus, meu perfeitoso! Os anjos vieram a buscar-te, vai com eles!
Nem a Nossa Senhora a percebia. E por pura caçoada chamavam-lhe a Bonitona. Por ser feia.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Girassóis



Voltam o colo para a luz, que os faz viver. Se o sol faltar, não sabem o que fazer, como as baratas tontas. 
É como nós, perante elites que nos atraiçoam.