terça-feira, 17 de maio de 2011

Cornucópia

A minha banca da fruta é o estendal do planeta. Galga mares em porta-contentores, cruza os céus em aviões cargueiros, e desagua-me de camiões-expresso no saquito das compras, empilhada em paletes.
Chega da Côte d’Ivoire, de Marrocos, do Brasil, da China, de Espanha, do Peru, da França, da Itália, da Costa-Rica, do Chile, e até da Nova Zelândia. A pêra-rocha vem-me da Estremadura.
No meio do estendal, em caixinhas de plástico transparente, descubro amoras silvestres, maduras do sol do México. São elas que me abastecem dos anti-oxidantes que o dietista aconselha, para derrotar a ferrugem que me degrada os tecidos.
Saio de lá cada vez mais consolado, a agradecer ao criador esta largueza. Fez ele bem em pôr na rua o velho pai Adão. No paraíso havia maçãs com bicho, e era um pau. E era só quando lhes chegava o tempo.