
Vivemos de aparências, e só para inglês ver nos agitamos. Incapazes de análise e de crítica, empanturrados de mito e de superstição, não sabemos destrinçar o cu das calças, trocamos realidade por fantasia.
Usados há muito tempo por elites decadentes como gado de exportação, consideramos que a miséria é mala-sorte, é injustiça do destino. A ignorância arrogante faz o resto. Somos incapazes de cumprir um horário e fazemos gala disso. E só mostramos alguma qualidade nas mãos dum capataz.
Ouvi um dia, na rádio, um fulano de Alcochete, a apelar aos amantes do todo-o-terreno. Bem-vindos de qualquer lugar do mundo, desde que tomem lugar na maior fila de jipes da estrada do Porto Alto. Para entrar no Guinness de Recordes e colocar Alcochete no mapa. E assim tornar a vilória conhecida, e pôr o mundo inteiro a falar dela.

Chega Julho e o Porto entra numa fona, transformado em Montecarlo com o circuito da Boavista. Uma boa parte da cidade é convertida em pista de aceleras, com vedações, e grelhas de partida, e paddocks, e bancadas, e pneus de protecção, e uma recta da meta onde os fardos de palha também têm serventia. Tudo isto para colocar a cidade no mapa, e pôr o Noroeste a falar dela.
Vai-se a ver e o circuito da Boavista custou em 2007, ao orçamento camarário, o melhor de €677 mil; em 2009 a cuspata subiu para €797 mil.
No mesmo ano, os razemotes da Redbull Air Race juntaram um milhão de basbaques na ribeira do Douro. O desfalque no orçamento atingiu €536 mil; em 2008 foi de €428 mil; em 2007 ficara-se pelos €190 mil. Para promover a cidade!