domingo, 11 de outubro de 2015

Eis aqui como se pode ver um problema (extremamente sério!) com o olho do cu e manter um ar sisudo!

Fui militante comunista e vivi durante 14 anos na URSS. Por isso sei que, não fosse o 25 de Novembro de 1975, e muitos dos que defendem a aliança com o PCP estariam a picar pedra numa região remota.
Só a ideia de que é possível ver a extrema-esquerda no governo do meu país, deixa-me envergonhado e indignado. Como será possível o Partido Socialista, que se diz europeísta, que não põe em causa a presença de Portugal na União Europeia, no Euro e na NATO, faça uma coligação com partidos que defendem exactamente o contrário?
Um dos meus amigos socialistas que defende essa aliança escreveu no Facebook: “Aquilo que aqui quero deixar agora, como testemunho pessoal fundado na minha própria experiência de trabalho em comum, é que os comunistas com quem trabalhei e o PCP com quem estive coligado, enquanto socialista militante e dirigente do PS, são portugueses honrados, trabalhadores empenhados e dedicados, que respeitam a palavra dada e honram os compromissos que assumem. Não são, na minha modesta opinião fundada também na observação e vivência pessoal, hoje, nem serão no futuro, nenhuma ameaça ao nosso sistema democrático e às suas regras. Mais, são, também o tenho sublinhado muitas vezes, um dos mais importantes garantes de respeito pela preservação da ordem publica, mesmo no decurso dos mais acirrados protestos politicos ou sindicais”.
Este meu amigo parece ter-se esquecido da história e dos clássicos do marxismo-leninismo-estalinismo, que continuam a ser o catecismo da extrema-esquerda em Portugal. Já não se lembra das tácticas previstas nos manuais comunistas de que, para tomar o poder, faz-se até alianças com o diabo. Talvez não tenha lido a entrevista que a deputada da CDU Rita Rato, formada em Relações Internacionais na Universidade Nova, deu ao Correio da Manhã, onde afirma não saber o que é o “goulag” (rede de campos de “reeducação” soviéticos).
Como é do domínio público, fui militante comunista e tive a oportunidade de viver durante 14 anos numa sociedade por eles edificada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Partido Comunista Português, ao que eu saiba, nunca se demarcou dos hediondos crimes cometidos por Lenine e Estaline, continua a ver nestes dois carrascos “timoneiros do povo”, sempre foi fiel e servo do Partido Comunista da União Soviética até ao fim deste. E, para os que já se esqueceram, não fosse o 25 de Novembro de 1975 e a pressão exercida pelos dirigentes soviéticos sobre Álvaro Cunhal, e muitos dos socialistas que defendem hoje a aliança com os comunistas estariam pendurados em postes de iluminação ou a picar pedra algures nalguma pedreira numa região remota.
O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda estão contra a integração de Portugal na União Europeia, contra o Euro, contra a NATO. E o que nos propõem como alternativa: atirarmo-nos todos ao mar ou aderir à União Económica Eurasiática e ao Tratado da Organização de Segurança Colectiva?
É verdade que a União Europeia está longe da perfeição e mergulhada numa profunda crise, que os portugueses, incluindo eu, foram e continuam a ser massacrados por medidas económicas honorosas, viram o seu nível de vida descer bruscamente, mas é necessário procurar novas alternativas e não propôr a repetição de ideias utópicas. Os comunistas-bolcheviques russos prometeram, em 1917, paz, pão e terra, mas o povo recebeu uma guerra civil que ceifou milhões de vidas, fomes que mataram mais uns milhões e os camponeses ficaram sem a terra que tinham, tendo muito deles ganho apenas um quinhão nalgum cemitério ou nas imensidões da Sibéria.
Se querem fazer novas experiências sociais, não as façam em pessoas, façam-nas em cobaias, se o PAN autorizar.
Lanço aqui um apelo aos amigos socialistas para que olhem para o Norte da Europa e vejam que há países que encontraram a prosperidade fora do comunismo. Para isso, não é preciso repetir utopias, mas fazer de Portugal um país menos corrupto, onde a justiça funcione, onde todos paguem impostos, onde os mais desprotegidos não sejam esquecidos.
Por favor, não me obriguem a participar duas vezes no mesmo filme, pois este segundo não será ficção como o “Good bye Lenine”.
(José Milhazes)