Despaisado, impaciente, procuro algures as primeiras projecções. Mas é cedo, por causa dos Açores. Num café a televisão dá bola. A um golo do Porto, explode.
E ela lá vai, sozinha, rua fora. Leva um saquito na mão e uma sombrinha fechada. De vez em quando estaca, gesticula, levanta os braços ao céu. Alega não sei o quê sobre segurança social. E logo - este país não interessa a ninguém! nem ao menino jesus! eu por mim vou emigrar! mas ai, quando eu vier... O resto já não chegou e ela lá foi, sempre a gesticular.
Ao lado aparece um templo duma congregação. À esquerda do guarda-vento é a entrada das irmãs, a dos irmãos é a da mão direita. O interior é uma amplíssima nave, muito branca, com lustres que explodem luz. À direita só há homens, à esquerda apenas mulheres, de véus brancos a cobrir-lhes os cabelos. À frente o aparato musical: o violino, as flautas, um clarinete e vários saxofones. As mulheres cantam em coro e o som, amplificado, esmaga os tímpanos. O pastor dá um capítulo nos livrinhos da palavra.
As primeiras projecções chegaram finalmente. Depois vieram segundas, e as seguintes. E amanhã vou eu pedir a sombrinha à mulher do saquito, e vou, passeio fora, a esbracejar. Pois se Deus escreve direito em linhas tortas, também se vê o exacto contrário. E vai chegar aí um caos novo, a somar ao caos velho!