terça-feira, 20 de outubro de 2015

Chama

Uns no escuro matutino outros mais tarde, passam vultos no caminho. Vão apanhar as castanhas, que é o mês delas. E são a única coisa que da terra ainda lhes traz algum dinheiro. Hão-de vir uns camiões que as levarão ao Brasil, à Itália, a essa Europa. 
Os mais vultos são viúvas, mais tenazes. Eles são raros, já trôpegos e hesitantes, agarrados a um pauzito. E quando há chuva cobrem capas de acaso, de plástico, ou velhas véstias a proteger do pior. 
Pelos finais da manhã voltam a casa, de saquito às costas, a cesta e o martelo pendurados no braço.
Eu olho-os e emociono-me, chego a ter inveja deles, da sua tenacidade. E entendo muito melhor porque foi impossível aos nazis exterminar judeus e povos. Porque ninguém corta as raízes dos homens, desde que Prometeu traiu os deuses e lhes entregou a chama.