sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A. M. Pires Cabral

FECHOU A ESCOLA EM GRIJÓ
                                     
Dantes ouviam-se as crianças a caminho da escola
e eram como pássaros de som nas manhãs de Grijó.
Não eram muitas, mas as vozes joviais
davam sinais de que a aldeia resistia,
continha à distância o deserto que a ronda
como a alcateia ronda uma rês tresmalhada.
Agora as crianças, todas as manhãs, 
são acondicionadas como mercadorias
numa viatura com vocação de furgoneta.
Lembram judeus amontoados
em vagões jota a caminho de algures.
Vão aprender em terra estranha o que os seus pais
e os pais dos seus pais aprenderam em Grijó.

[Gaveta do fundo, edição Tinta-da-China, Novembro de 2013]