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«O sistema bancário dos EUA, origem da crise bancária global, foi considerado pelo governo americano demasiado grande para falir, e por isso não se permitiu que falisse quando começou com problemas em 2007/2008. O preço de não permitir que falisse foi transformar a reserva federal num "banco tóxico" (a abarrotar de activos tóxicos que foram trocados por dinheiro para manter os empréstimos) (...). O que é menos sabido é que a parte 2 desta crise é simplesmente outra variante desta história, actualmente a passar-se na Europa.
Os Gregos bem podem ter mentido acerca das suas dívidas e dos seus défices, como se alega, mas os Gregos são a exceção e não a regra. O que realmente aconteceu na Europa foi que, na década da introdução do euro, bancos gigantescos de países nucleares da Europa compraram grandes quantidades de dívida soberana periférica, e alavancaram-se muito mais do que os seus primos norte-americanos. Estarem alavancados, em alguns casos 40 para 1 ou mais, significa que uma viragem de poucos pontos percentuais contra os seus activos pode deixá-los insolventes. Como consequência, em vez de serem demasiado grandes para falir, os bancos europeus, quando se somam as suas responsabilidades, são "demasiado grandes para (qualquer governo) resgatar". (...)
Os Estados Unidos podem imprimir notas para sair do problema porque têm as suas próprias impressoras e o dólar é o activo global de reserva. A França não pode fazê-lo, uma vez que o Estado francês já não comanda a sua impressora, e portanto não pode resgatar directamente os seus bancos. Nem a Espanha, nem mais ninguém. Como resultado, os juros das obrigações do governo francês estão a subir, não por a França não poder pagar o seu Estado-Providência, mas porque o seu sistema bancário constitui, para o Estado, uma responsabilidade demasiado grande para resgatar.
Todavia, se um desses bancos gigantescos falisse mesmo, teria de ser resgatado pelo seu Estado. Se esse Estado tiver um nível de dívida em relação ao PIB de 40%, o resgate é possível. Se já tiver uma dívida perto dos 90%, é quase impossível o Estado assumir na sua conta essa responsabilidade, sem que disparem os juros das suas obrigações. É por isso que toda a Europa precisa de ser austera, porque as contas de cada Estado nacional têm de agir como amortecedor de todo o sistema. Tendo já resgatado os bancos, temos que nos assegurar que há espaço nas contas públicas para os receber. É por isso que temos austeridade. Continua a ter tudo a ver com os bancos.(...)
Esta é, primeiro, uma crise bancária e, em segundo lugar, uma crise da dívida soberana. De que existe uma crise nos mercados da dívida soberana, especialmente na Europa, não há dúvida. Mas isso é um efeito e não uma causa. Não houve nenhuma orgia de despesa governamental para nos levar aí. Nunca houve um risco geral de que todo o mundo se tornasse uma Grécia.» (...)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out.2013]