quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A cinturinha de vespa e o B 52

O capitão não era grande espingarda, bastas vezes só dificultava o que não era fácil. Mas fazia o que sabia para aguentar a chavalada nas fronteiras do juízo. No fim do ano informou que a actividade da esquadra, quanto ao armamento usado, equivalia à capacidade de um B 52 e meio.
E realmente a pista era uma bisarma, estendida ali no cimo do planalto. Cabia nela à vontade um B 52 e mais que fosse. Os engenheiros é que mediram mal os ventos dominantes, e as passarolas em uso não se agradavam de aragens cruzadas a noventa graus.
Os engenheiros voltaram, manobraram catrapilos e terraplanadoras, e construíram uma pista secundária, perpendicular à mãe. Descolar nela era um tufão de pó vermelho, nem as verduras da agro-pecuária medravam à vontade, mas ninguém tem sol na eira quando chove no nabal. Mal as brisas se inquietavam, mesmo aeronaves mais encorpadas optavam pelo castigo.
Para o Auster, então, era fatal. A passarola era um trambolho inglês de manuseio um tanto inverosímil, de pau e tela e travões de calcanhar. Já o motor era um relógio fiável, bem mais que outros mais credenciados. Mas a custo se encaixavam no habitáculo o piloto e a maca dum ferido. O frasco do soro pendurava-se no tecto, e o enfermeiro, a havê-lo, só tinha que se amanhar.
Quem tinha crença na máquina era o Pequito Rebelo, um passarão que se entendia bem com as gentes da aviação. Era um puro integralista, vinha da guerra de Espanha, e punha à disposição a pista da Comenda, ali ao Gavião, para exercitar as juventudes pátrias nas aterragens do mato. Na esteira do mais ousado pensamento nacional, ele opinava que o Auster ia decidir a guerra. O bicho acabou a ser montado nas oficinas de Alverca, e o milagre que faltava era por conta da Virgem e dos jovens pilotaços.