domingo, 26 de janeiro de 2014

Ó Portugal!

Se pensaste que um povo pode dar-se ao luxo de passar 40 anos a votar acefalamente num partido como o PPD, porque um bispo recomenda e dois padres mandaram;
Se pensaste que este país pode dispôr um dia dum Sócrates a governar, e depois deixá-lo queimar em lume brando durante meia dúzia de anos, numa campanha negra das elites oligárquicas como há muito se não via;
Se pensaste que te leva a algum lugar um comité central que se rege por dogmas de palha com cem anos, expulsando os seus melhores; que desde então ainda hoje sustenta que o PS é igual ao PPD, se não for bem pior; que oferece o braço e leva ao altar da governação a pior escória de traidores e de trafulhas de que o país tem memória; e se não dás conta de que toda essa vergonha não tem outro objectivo que não seja usar-te como carne para o canhão do quanto pior melhor, e garantir desse modo um nicho de 12% no mercado eleitoral da democracia burguesa e das subvenções estatais aos partidos; 
Se também pensas que é viver acima das nossas possibilidades salvaguardar os avanços do país nos últimos anos, em campos como a educação pública, a ciência, a investigação, as infra-estruturas, a saúde colectiva, as tecnologias, a segurança social que tem poupado aos mais frágeis serem abandonados à beira da picada;
Se acreditaste no fraseado malabarista dos especialistas, dos agitadores da opinião, dos escribas avençados que têm sido muitos, e da imprensa domesticada ao serviço do dono; 
Se acreditaste que a enorme crise economico-financeira que assola o mundo desde 2007 não existiu, nem saiu das mãos da cleptocracia bancária criminosa, antes era uma invenção do cabrão do Sócrates, já então, e ainda hoje, um aldrabão vigarista e impenitente;
Se aceitaste que, em proveito próprio e para nossa desgraça, a escória aparelhista elegesse, dentro do PS, o espantalho do Seguro, cujas qualidades e futuro de líder da oposição estão à vista;
Se acreditas que é verdade, que este governo domesticou finalmente os dragões da troika e dos mercados, e a hidra da dívida e do défice, e os juros dos agiotas, tudo a golpes de credibilidade e justa governação;
Se acreditas que o ajustamento vai terminar, que a troika será corrida a pontapé, e que o milagre do crescimento e do trabalho está de volta, ali à próxima curva;
Se assim é, ó velho Portugal, é que já não tens consciência nem lembranças do que foi o crime das elites, e a tua agonia nos tempos de Alcácer Quibir. Mas espera pela pancada, que vais voltar a tê-las!