Incapazes de mostrar algo mais apresentável, vivemos de símbolos pintados e de metáforas hiperbólicas. Andamos a fazê-lo desde há séculos. E a morte do Eusébio confirma a tradição e garante-nos semanas de alimento. Basta olhar para a comunicação social que as elites já domesticaram. Durante uma quinzena não há trafulhices na política, nem vilanias na finança, nem golpadas na economia, nem ruínas no orçamento, nem emboscadas contra a nossa vida... Há épicos panteões, e medalhões patriotas, e condecorações de lata, e estátuas, e idolatrias, e cerimónias que são de estarrecer. Ninguém fala doutra coisa. Tudo isto porque morreu um velho homem africano a quem chegou a hora, e de quem querem fazer mais um símbolo qualquer.
Ora o velho Eusébio cumpriu exemplarmente o seu papel, enquanto andou por aí: jogou à bola o melhor que foi capaz, e fuzilou guarda-redes adversários, que era o que tinha a fazer. É esse o único símbolo útil que contém, e que cada português deveria seguir: fazer o que lhe compete, o melhor que for capaz.
Mas isso... táket'ómau! As elites preferem-nos carneiros, não nos querem cidadãos. Para melhor nos transformarem em gado de exportação! Nós já achamos isso natural.