O Zé João é doutor, coisa que os pais nunca puderam ser. Licenciou-se em informática de redes. Fez o que chamam a pós-graduação. E gastou nisto meia dúzia de anos.
Agora manda currículos ao mercado. E o mercado acena-lhe com setecentos euros, a trezentos quilómetros da casa dos pais. Mas talvez lhe chegue da Inglaterra a palavra que lhe quadra.
O Zé João anda cheio de sorte. Pode sempre submeter-se e cortar nas francesinhas, ou mandar foder os donos do mercado. Se ele fosse um amanuense público, um pensionista já velho, um inútil cinquentão desempregado, só lhe restava ser desossado a frio no cepo destes talhantes. Para pagar às elites cleptocratas - que chamam "os nossos credores" - os juros da mitológica dívida soberana, esse colete de forças que os mercados inventaram para nos foderem a vida e melhor se governarem.
Sorte malvada quem a tem é o Zé João. Com a invernia selvagem que se instalou aí, talvez lhe toque apanhar banhos de sol nas margens do Tamisa.