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«Quando os investidores começaram a preocupar-se com os fundos soberanos europeus, as agências de notação de crédito começaram a baixar a nota desses fundos soberanos e as suas obrigações passaram de AAA para BBB, e pior ainda. (...)
Os bancos com activos saudáveis talvez fossem capazes de aguentar essa súbita perda de financiamento, mas além das hipotecas dos Estados Unidos que estavam a congelar as suas contas, os bancos europeus estacam cheios de outros activos periféricos em rápida desvalorização. As exposições eram mais uma vez espantosas. No princípio de 2010, os bancos da zona euro tinham uma exposição colectiva à Espanha de 727 mil milhões de dólares, de 402 mil milhões à Irlanda, e de 206 mil milhões à Grécia. A exposição dos bancos franceses e alemães aos PIIGS foi estimada em 2010 em mil biliões de dólares. Só os bancos franceses tinham cerca de 493 biliões de dólares de exposição aos PIIGS, que era o equivalente a 20% do PIB francês. A Standard & Poor's calculou que as exposições francesas ascendessem, no total, a 30% do PIB.
Mais uma vez a grande maioria dessas exposições eram do setor privado - empréstimos imobiliários em Espanha e similares. A componente soberana desses números era relativamente pequena. (...) O que aconteceu nos EUA em 2008, com uma "crise de liquidez" generalizada, acelerou na Europa em 2010 e 2011. (...) Outro continente, outra crise da banca, e no entanto só ouvíamos falar de fundos soberanos libertinos que gastavam demais - porquê? (...)
A resposta curta é que, com os bancos da Europa alavancados para além de tudo o que os bancos dos EUA alguma vez tinham conseguido (...), mais uma vez os problemas dos bancos tornam-se problemas dos Estados. Mas ao contrário dos EUA (e do Reino Unido), os Estados em questão nem sequer conseguem começar a resolver esses problemas, uma vez que desistiram das suas impressoras, ao mesmo tempo que deixaram os seus bancos tornar-se demasiado grandes para resgatar. (...)
Se os Estados não conseguirem sair dos problemas através da inflação (não há impressora) nem desvalorizar para fazer a mesma coisa (não há moeda soberana), só podem incumprir (o que fará estoirar o sistema bancário, pelo que não é uma opção); isso deixa apenas a deflação interna, através dos preços e salários - austeridade. Esta é a verdadeira razão pela qual todos temos que ser austeros. Mais uma vez, trata-se de salvar os bancos».
[Austeridade, Mark Blith, Ed. Quetzal, Out.2013]