A beleza e o espírito de uma obra de arte podem ser reproduzidos, mesmo depois de ela ter sido destruída. Uma harmonia desaparecida pode inspirar de novo os criadores. Porém, se o que estiver em causa for uma espécie de seres vivos, terão que passar céu e terra, antes que ela possa voltar a existir.
C. William Beebe, “A ave. Forma e função.”1
Em
Junho a noite do Árctico é muito curta, pouco mais que um intermezzo de
penumbra. Durante os longos dias, nuvens de mosquitos enxameiam das valas
profundas, como cortinas de fumo, sob o degelo da tundra.
Antigamente,
nesta época do ano, as populações esquimós aguardavam aqui o doce, fremente e
longo trinado dos maçaricões-esquimós. Eles regressavam ao Árctico em grande
número, trazendo consigo a perspectiva de carne tenra. Mas os grandes bandos já
não aparecem. A sua própria lembrança se perdeu, ficando apenas a lenda. Pois o
maçaricão-esquimó, primitivamente uma das mais abundantes aves de caça da
América do Norte, deixava atrás de si, na Primavera e no Outono, um verdadeiro
corredor da morte. Voavam tiros de todos os lados, e ele foi demasiado lento a
aprender o que era essencial à sobrevivência: o medo, diante da espingarda do
caçador.
É
verdade que a espécie se manteve, mas encontra-se em perigo extremo de
extinção. Tal como antes, os poucos maçaricões-esquimós que ainda existem
continuam a fazer a sua longa e perigosa migração, desde a Patagónia argentina
onde passam o Inverno, até às planuras húmidas da tundra que descem para o mar
polar. Aqui procuram a sua fêmea. Mas o Árctico é imenso, e, as mais das vezes,
a sua busca é vã. Agora voam sozinhos, os últimos representantes de uma espécie
moribunda.
(Cont.http://ladraralua.blogspot.pt/2014/01/o-ultimo-macaricaoesquimo-2.html)
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