1) Diz-se aí à boca cheia que o governo do Luxemburgo tem acordos secretos firmados
com centenas de multinacionais (bancárias, tecnológicas, industriais e de
serviços), ao abrigo dos quais as empresas escapam aos impostos devidos nos
seus países, e pagam no Luxemburgo taxas que se aproximam do zero. O mais certo é haver entre elas empresas portuguesas. Ao tempo da
celebração desses acordos, J.C. Juncker chefiava o governo luxemburguês, e foi
seu ministro das finanças. Hoje é o Presidente da Comissão Europeia. Inquirido
pela imprensa, sacudiu a poeira da lapela e deu carta branca à sua Comissária das Finanças, por achar que essas práticas são indecentes.
2) Os países do sul da Europa, e Portugal
especificamente, estão a ser esquartejados por programas de austeridade e ajustamento, como cordeiros no açougue, a
pretexto dos limites da dívida e do défice públicos. Sujeitos ao espartilho do
euro, com as economias paralisadas, com o desemprego que aí anda, com os gastos em subsídios sociais às famílias em penúria, os países do sul não
dispõem de mecanismos de intervenção que lhes acalentem qualquer hipótese de
diminuir as dívidas e domesticar os défices públicos. A América, que gerou esta
sarna das finanças com a bomba do sub-prime, pôs as rotativas do Tesouro a
funcionar e tem o problema ultrapassado.
3) O salário mínimo nacional é aumentado em dois patacos. Logo a Comissão admoesta que os governos não podem baixar a guarda do ajustamento, e que os compromissos da dívida são para cumprir.
4) Duma assentada, o governo de Portugal manda para o desemprego setecentos trabalhadores dos serviços sociais.
5) O FMI afirma e considera que Portugal tem que reformar
o ensino e aumentar os alunos por turma, para diminuir a despesa e reduzir o défice público.
6) A sra. Merckel alemã considera e avisa que Portugal
tem licenciados a mais.
7) Nos 4 anos de vigência deste governo, 350 mil
portugueses emigraram para escapar ao desemprego e à penúria, num movimento que
Portugal não via desde os anos 60 do século passado. Para além dos apanhadores de fruta, e dos canalizadores, e das femmes-de-ménage, uma boa parte destes novos
emigrantes são engenheiros, são cientistas e pesquisadores, são arquitectos,
são informáticos, são técnicos de saúde e enfermagem. A sociedade e as empresas alemãs, e as inglesas, e as australianas, e as
luxemburguesas, e as brasileiras, e as canadianas, e as dos cheques do
petróleo, e as restantes servem-se desta força de
trabalho e chamam-lhe um figo. Sem terem gasto um tostão na sua formação.
8) Em Bruxelas, os trabalhadores incendeiam
automóveis pelas avenidas e entram em batalhas campais com a polícia, em protesto contra a austeridade que o novo governo quer impor.
9) Em Londres e noutras cidades, milhões de máscaras protestam nas alamedas contra o
liberalismo selvagem, contra o capitalismo, contra a ausência de democracia, contra as
desigualdades obscenas. Em Lisboa juntou-se uma centena.
10) Em Portugal, já foram assassinadas este ano 31
mulheres, vitimadas pela violência doméstica. Nos últimos dois anos, mais de uma
centena de crianças ficaram órfãs de mãe, imolada pelo respectivo pai.
11) Na Comissão Parlamentar de Economia, o ministro Pires
de Lima, o das cervejas, compondo um ar de bêbado ou de atrasado mental a armar ao
engraçado, reafirma que a PT foi destruída pelos seus gestores, envolvidos em
interesses e negócios de ruína, por culpa dum cabrão chamado Sócrates.
12) O secretário-geral do PCP não se cansa a declarar que
para a ruína de Portugal se conjugam o PS, o PSD e o CDS. Igualitariamente, porque são iguais, os
três. Será verdade?!