sábado, 8 de novembro de 2014

Europa?!

1) Diz-se aí à boca cheia que o governo do Luxemburgo tem acordos secretos firmados com centenas de multinacionais (bancárias, tecnológicas, industriais e de serviços), ao abrigo dos quais as empresas escapam aos impostos devidos nos seus países, e pagam no Luxemburgo taxas que se aproximam do zero. O mais certo é haver entre elas empresas portuguesas. Ao tempo da celebração desses acordos, J.C. Juncker chefiava o governo luxemburguês, e foi seu ministro das finanças. Hoje é o Presidente da Comissão Europeia. Inquirido pela imprensa, sacudiu a poeira da lapela e deu carta branca à sua Comissária das Finanças, por achar que essas práticas são indecentes.
2) Os países do sul da Europa, e Portugal especificamente, estão a ser esquartejados por programas de austeridade e ajustamento, como cordeiros no açougue, a pretexto dos limites da dívida e do défice públicos. Sujeitos ao espartilho do euro, com as economias paralisadas, com o desemprego que aí anda, com os gastos em subsídios sociais às famílias em penúria, os países do sul não dispõem de mecanismos de intervenção que lhes acalentem qualquer hipótese de diminuir as dívidas e domesticar os défices públicos. A América, que gerou esta sarna das finanças com a bomba do sub-prime, pôs as rotativas do Tesouro a funcionar e tem o problema ultrapassado.
3) O salário mínimo nacional é aumentado em dois patacos. Logo a Comissão admoesta que os governos não podem baixar a guarda do ajustamento, e que os compromissos da dívida são para cumprir.
4) Duma assentada, o governo de Portugal manda para o desemprego setecentos trabalhadores dos serviços sociais.
5) O FMI afirma e considera que Portugal tem que reformar o ensino e aumentar os alunos por turma, para diminuir a despesa e reduzir o défice público.
6) A sra. Merckel alemã considera e avisa que Portugal tem licenciados a mais.
7) Nos 4 anos de vigência deste governo, 350 mil portugueses emigraram para escapar ao desemprego e à penúria, num movimento que Portugal não via desde os anos 60 do século passado. Para além dos apanhadores de fruta, e dos canalizadores, e das femmes-de-ménage, uma boa parte destes novos emigrantes são engenheiros, são cientistas e pesquisadores, são arquitectos, são informáticos, são técnicos de saúde e enfermagem. A sociedade e as empresas alemãs, e as inglesas, e as australianas, e as luxemburguesas, e as brasileiras, e as canadianas, e as dos cheques do petróleo, e as restantes servem-se desta força de trabalho e chamam-lhe um figo. Sem terem gasto um tostão na sua formação.
8) Em Bruxelas, os trabalhadores incendeiam automóveis pelas avenidas e entram em batalhas campais com a polícia, em protesto contra a austeridade que o novo governo quer impor.
9) Em Londres e noutras cidades, milhões de máscaras protestam nas alamedas contra o liberalismo selvagem, contra o capitalismo, contra a ausência de democracia, contra as desigualdades obscenas. Em Lisboa juntou-se uma centena. 
10) Em Portugal, já foram assassinadas este ano 31 mulheres, vitimadas pela violência doméstica. Nos últimos dois anos, mais de uma centena de crianças ficaram órfãs de mãe, imolada pelo respectivo pai.
11) Na Comissão Parlamentar de Economia, o ministro Pires de Lima, o das cervejas, compondo um ar de bêbado ou de atrasado mental a armar ao engraçado, reafirma que a PT foi destruída pelos seus gestores, envolvidos em interesses e negócios de ruína, por culpa dum cabrão chamado Sócrates.
12) O secretário-geral do PCP não se cansa a declarar que para a ruína de Portugal se conjugam o PS, o PSD e o CDS. Igualitariamente, porque são iguais, os três. Será verdade?!