A propósito da comenda de Cristo a outorgar pelo Cavaco (que a Sócrates não faz falta), oiça-se a voz do povo, o nevoeiro mental que para aí anda, a tolice contentinha, a necedade, a desinformação, a ignorância de quem emprenha de ouvido.
Um tal Gaio, quiçá ingénuo e bem intencionado, há dias dizia assim:
« (...) Houve benefícios para o País
a creditar ao consulado de José Sócrates? Certamente que houve. Mas também
houve incontáveis prejuízos que pesam negativamente no seu desempenho. (...)
Lembro a “febre” da construção de auto-estradas, muitas absolutamente
desnecessárias — como o constata o reduzidíssimo tráfego que lá se verifica.
Lembro o frenesim do projecto do novo aeroporto de Lisboa — primeiro na Ota,
depois no Montijo — a enormidade de trabalho realizado em estudos, em
avaliações, em propostas, etc. Lembro, finalmente, o comboio de alta velocidade.
Os estudos que se fizeram, os pareceres que se procuraram, os consultores que
foram solicitados, a enormidade de propostas avaliadas! E tudo isto
rigorosamente para nada! E o dinheiro incontável que foi enterrado nestas
aventuras — e cujo montante, os contribuintes desconhecem — certamente que
faria muito jeito para minorar a gravidade da nossa presente situação. Acham
que este despesismo descontrolado, este esbanjamento sem medida do dinheiro dos
contribuintes é compatível com a atribuição de qualquer condecoração? Eu acho
que não.»
O Sócrates andará longe de merecer a comenda da rotina. Em contrapartida, muitos portugueses merecem bem o que têm.