Sigamos o exotismo dos sequazes (1):
Sampaio
Bruno
«(…) Neste sentido, Sampaio Bruno desloca a essência do
mito e do movimento sebastianistas para a totalidade do Homem ou da Humanidade.
Na verdade, o Encoberto não seria D. Sebastião, mas o Homem na sua
universalidade. “Dissipe-se a nuvem que encobre o herói. O herói não é um
príncipe predestinado [alusão ao rei português]. Não é mesmo um povo [alusão ao
povo judaico e ao povo português]. É o Homem. O sebastianismo seria assim a
expressão em Portugal de um movimento ontológico constitutivo de toda a humanidade:
o messianismo.»
Teixeira
de Pascoais
« (…) O sebastianismo evidencia-se como um elemento
intrínseco à cultura portuguesa. A “raça portuguesa” apresenta um conjunto de
elementos constitutivos que lhe são específicos e que a diferencia de todas as
restantes (…); o “génio” da língua expressa no sentimento de saudade; a
independência religiosa do povo, expressa na primitiva igreja portuguesa ou
Igreja Lusitana; a lenda sebastianista; as primitivas leis portuguesas,
baseadas nos costumes regionais; a transmutação espiritual da paisagem nas
obras estéticas portuguesas. (…)
O sebastianismo, integrando constitutivamente a alma
portuguesa, deixara de ser determinante para a história de Portugal. (…) De
igual modo, torna-se necessário abandonar o positivismo cientista e o
experimentalismo europeu, com predomínio das ciências naturais e matemáticas, e
retornar à antiga escala axiológica onde dominavam os valores morais e
nacionais. “Duas grandes qualidades possui o povo português: o Génio
Aventureiro e o Temperamento Messiânico. (…)»
António
Sardinha
« (…) Monárquico e integralista, Sardinha defende uma
visão sebastianista da História de Portugal, como forma de superação do
decadentismo politico-partidário presente na 1ª República, e como reassunção da
identidade permanente de Portugal. Na sua obra, o sebastianismo encontra-se
sempre subordinado a uma filosofia política peninsularista, designada por
“hispanidade” ou “iberismo”. (…) Defende a visão histórica, cultural e
psicológica do sebastianismo como “filosofia da nossa Raça, e como crença
activa no regresso do “grande amanhã de Portugal”. (…)
Fernando
Pessoa
«Fernando Pessoa apresenta-se a Adolfo Casais
Monteiro como um “sebastianista racional”, isto é, um estudioso e um crente num
messias salvador de Portugal. (…) Sebastianista porque não se limitou a crer e
a reproduzir poeticamente o conteúdo das Trovas de Bandarra e os argumentos do
Padre A. Vieira, mas intentou actualizá-los para o séc. XX, nomeadamente a
teoria do V Império. (…) Revela ser Pessoa uma das mais altas figuras da
filosofia esotérica portuguesa, escrevendo sobre este tema não de um modo
despiciendo ou diletante, como um simples amador, mas de um modo empenhado,
quase militante (…).
Pessoa considera a fundação de Portugal como
materialização territorial e espiritual da Ordem do Templo – posteriormente a
partir do reinado de D. Dinis designada como Ordem de Cristo (…). Justamente
quando a Igreja Católica esgotou o seu múnus evangélico, pervertendo-se,
assenhoreando-se de Portugal por via de instituições “estrangeiras” (o tribunal
do Santo Ofício e a Companhia de Jesus), surge em Portugal o “profeta” do V
Império, Bandarra, anunciador de “O Encoberto”, isto é, do “Cristo de
Portugal”, o rei D. Sebastião. (…)
“E a
nossa grande Raça partirá em busca duma Índia nova, que não existe no espaço,
em naus que são construídas “daquilo de que os sonhos são feitos”. E o seu
verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e
carnal ante-arremedo, realizar-se-á divinamente. (…)»