António
Quadros
«(…) O mito sebastianista originar-se-ia da junção de
dois mitos europeus anteriores: o mito do Encoberto, de raiz popular hispânica
e europeia (…); e o mito do V Império, mito bíblico e expressão do desejo inconsciente
dos povos do estabelecimento dum reino definitivo de paz e de justiça no mundo.
(…) “Camões é o maior dos sebastianistas”. (…)
António Quadros eleva a obra de António Sérgio a centro
detractor da teoria sebastianista. Sérgio é estatuído como adversário frontal
do sebastianismo. (…) Trata-se de compreender a diferença radical entre
história positiva, fundada em factos e documentos, e mito, estrutura
inconsciente da mentalidade dos povos, de que a poesia seria a intérprete mais
correcta. (…)
De facto, António Sérgio, como qualquer historiador
positivista ou empirista, alimentado exclusivamente de factos, não compreendeu
a profundidade e a natureza do mito sebastianista. (…)
A teoria de A. Sérgio, por preconceito racionalista, foi
incapaz de compreender a natureza profundamente cultural do mito sebastianista,
como narrativa compensatória e consolatória de um povo que:
- com supremo orgulho na criação dum império mundial, se
viu humilhantemente desprovido de riqueza, poder, prestígio e até de independência;
- desde o séc. XVI intuía ser incapaz de favorecer a sua
vida pela objectividade do trabalho, pela disciplina do esforço, pela
capacidade de iniciativa, já que as elites parasitárias cortesãs não só
impediam a ascensão social, como repartiam entre si as benesses cumuladas pelos
proveitos retirados dos Descobrimentos, do ciclo da pimenta e do ouro, da
escravatura, do café.
José
Marinho
« (…) José Marinho aceita e não aceita o sebastianismo
como um mito. Trata-se de um mito enquanto forma de conhecimento em ruptura com
a história factual e positiva e a configuração imaginária da cultura
portuguesa; não se trata de um mito porque um povo isolado não tem o poder e a
capacidade de criação de mitos, apenas a humanidade como um todo a teria. (…)»
Pinharanda
Gomes
«(…) Segundo Pinharanda Gomes, o movimento sebastianista
tem duas fases: “a pré-vieirina, que
intelige o Desejado como pessoa
singular, seja ela Sebastião, António Prior do Crato ou um Bragança; e a pós-vieirina, que intelige o
sebastianismo como sistema de filosofia política, que mantém a eleição de
Portugal para a edição do Reino [o V Império]. (…)
Após proceder a uma síntese histórica do movimento
sebastianista e dos seus opositores, conclui Pinharanda Gomes sobre os aspectos
positivos do movimento sebastianista: “Na melhor das intenções, o sebastianismo
constitui uma tentativa de revigoramento da Cruzada, um desejo de
reaportuguesamento da Pátria, para que um povo velho não se apagasse da
história”.»
Joaquim
Domingues
(…) Assinalando ter sido a teoria providencialista a
visão dominante da história de Portugal até Alexandre Herculano, Joaquim
Domingues aclara em seguida a teoria da história deste autor, de Teófilo Braga
e de Sampaio Bruno, concluindo ter sido com a obra deste último que se reergueu
e renovou a antiga visão providencialista. (…)
Assim, a análise da história de Portugal muda
radicalmente de foco: Portugal passa a ter um destino, constitui-se como um ser
com uma finalidade. É justamente em função deste novo foco que faz sentido a
aparição de Cristo a D. Afonso Henriques na batalha de Ourique narrada por Frei
Bernardo de Brito, faz sentido a visão quinto-imperialista esboçada em Os
Lusíadas e desenhada com pormenor por Padre António Vieira, faz sentido a gesta
heróica e aventureira dos Descobrimentos – um território periférico e
imensamente exíguo da Europa descobrindo e dominando um império geograficamente
descomunal – e finalmente faz sentido o mito sebastianista; (…)
“Não
temamos o descaminho – não escreve Deus direito por linhas tortas? -, hoje como
outrora a via real a trilhar é a da aventura, ousada mas racional, com risco
mas com rasgo. Deixemos os caminhos por demais trilhados, a certeza dos métodos
confirmados, a segurança das normas gerais. Na manhã de nevoeiro, todos os
caminhos estarão irreconhecíveis”.