sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Tecelões

Não há nada que falte dizer sobre os malefícios que o Santo Ofício provocou na Europa durante séculos. E sobre a tragédia que o mesmo constituiu para os povos ibéricos nunca o bastante será dito.
Torquemada foi o primeiro inquisidor-geral de Espanha, onde semeou a iniquidade sem limite à sombra dos pendões da Justiça, da União e da Misericórdia. Confessor e conselheiro espiritual de Isabel a Católica, induziu a criatura a instalar a Inquisição para o serviço de Deus.
Por onde quer que ele andasse, fazia-se acompanhar dum escudo pretoriano de 250 seguidores de fidelidade cega. Um dia morreu na cama, sossegado, cumprira bem a missão.
Também Pedro de Arbuès, que lhe sucedeu mais tarde, terá servido a Deus exemplarmente. Mas isso não foi bastante para o impedir de morrer em Saragoça, de morte muito matada, com trinta centímetros de lâmina furiosa a sangrar-lhe o baixo-ventre.
O super-juiz Alexandre também é uma criatura de missões. É certamente para melhor as cumprir que busca conselho em Fátima, e alento e inspiração no santo recolhimento de ermidas e de capelas.
Deus, mesmo se bem servido, é insondável, já que reserva a servidores iguais tão díspares destinos, como vimos. No lugar de Alexandre, eu antes queria ver-me rodeado de seguidores cegos. Porque Deus tecerá bem, mas o Diabo também é tecelão.