terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Solstício

Deitei um filho ao mundo, escrevi um livro ou dois, fiz uma casa nova na paisagem. E tirei a tralha dos caixotes antes que a noite chegasse. Encerei bem as madeiras, limpei as lixaradas, fiz a cama em que me vou deitar. No fim saí ao alpendre a sondar o horizonte. Era ainda o mesmo que avistei, há uns cem anos por pouco, numa antiga madrugada em que os olhos se me abriram pela primeira vez.
Encontrei à minha frente a Orion, com a Betelgeuse e as três Marias no meio, desenhadas num céu que suspendeu as névoas para me surpreender.
Rejubilei do presságio e fui dormir. É que me falta enraizar umas árvores, e acordar cedo para sujeitar à horta os alhos mais as favas. Já está aí o tempo deles.