(Cont.)
A sua impaciência foi crescendo e ele achava-se dividido
entre o desejo de partir e o de esperar um pouco mais. Esta intranquilidade
serenou um pouco quando começou a voar com o seu bando, junto à costa. Eram
longos troços, com ele no comando. Então algumas aves abandonavam a formação e
juntavam-se, às duas e três, a outras tarambolas que partiam para o Sul. Quando
chegou Setembro e as noites se tornaram de repente mais frias, o bando já tinha
apenas metade do tamanho inicial. Dos bancos de nuvens que deslizavam do mar
caíam de vez em quando grandes flocos de neve. As últimas tarambolas já tinham
partido. Restava apenas o seu bando, para além das gaivotas e dos eider-reais.
Os
arandos ficaram inteiriçados sob o gelo e já não deitavam sumo, tornando
escasso o alimento. E a gordura que todos tinham armazenado como reserva de
energia para a travessia do oceano começava já, demasiado cedo, a ser
utilizada.
Finalmente
o maçaricão não pôde mais refrear o impulso migratório. E, após um dia
tempestuoso em que as temperaturas pouco tinham subido além do ponto de
congelação, caía a noite fria quando ele bateu as asas e se elevou no céu
sombrio. O tecto de nuvens estava baixo e o bando organizou rapidamente a
formação, dirigindo-se para o mar, com forte vento de frente. A esta altitude o
vento fustigava-o já como uma tempestade, o que lhe reduzia a velocidade para metade.
Frequentes rajadas tempestuosas desorganizavam a formação, e um par de
tarambolas mais fracas ficaram para trás. Antes de perder de vista a acidentada
costa do Lavrador, o maçaricão soube que não poderiam prosseguir o voo nestas
condições. Por isso voltou para trás e poisou o bando numa encosta abrigada do
vento. O temporal bramia por cima deles.
Tinham
falhado a partida. Mas agora tanto as tarambolas como o maçaricão estavam
impacientes por iniciar a longa viagem. Tentaram-no em vão mais que uma vez.
Inquieto, ele esperava condições mais propícias, mas estava a fazer-se tarde e
os dias bons eram raros. As névoas aclaravam, porém o vendaval rugiu três dias
e três noites, para os lados do Sul. Com interrupções, as aves continuaram a
devorar caracóis e arandos já murchos. E ao quarto dia o vento mudou. Mais
fraco e mais frio, soprava agora do Norte. Este vento de cauda era tão desfavorável
como o vento de frente, pois dificultava o equilíbrio do voo e afectava os
delicados controlos reflexos das rémiges. Durante três dias o vento norte assobiou.
Até que lentamente acalmou, e no terceiro dia à noite virou de Oeste, agora
apenas uma ligeira brisa. O maçaricão tinha aguardado este vento de lado. E a
noite caiu, clara e fria.
(Cont.)