Dentro duma robusta vedação farpada
alinham-se as plantitas milimetricamente, amparadas em postes e aramados para
se manterem em pé. Instala-se um complexo sistema de cortinados, que as
resguardam da geada ou dum cieiro mais vivo. E cada uma tem direito à sua dúzia
de pingos por minuto. Simulam chover do céu, mas pingam a meia altura, dum
sistema de rega gota-a-gota.
Já vêm educadas do viveiro, com um
mestrado em inovação e produtividade, onde nunca se falou de trabalho
infantil. E mal lhes enterraram as raízes, desentranham-se logo em frutos,
fotocópias uns dos outros.
A esperança média de vida, igual para toda
a gentinha, não vai além duma dezena de anos. No dia em que o catrapilo entrar
aqui, vai tudo raso para a vala comum. Ninguém se salva, pois que o estado
social é uma heresia. E deste modo se garante o campo aberto às novas gerações.
Já no paraíso terreal havia árvores na
horta. Às vezes duravam séculos, e tinham troncos rugosos que os pais deixavam
aos filhos. Davam sombras e criavam as maçãs do fim do Verão, algumas delas com
bicho. Hoje em dia já só restam ecos disso em velhas hortas austríacas, que
militam na biodiversidade e cultivam o valor da tradição.