Então a mãe voltava-se
para a janela, creio que para ver melhor e não errar. Entalava o corpo da
galinha nos joelhos, a esquerda a segurar-lhe a cabeça por cima da tigela,
enquanto a mão direita lhe apontava, ao comprido da crista, o fio duma faca.
A galinha esperneava ao
golpe na cabeça. E à medida que o sangue gotejava, tingia-se a malga de
vermelho, até ela quedar apaziguada.
A mão que, às manhãs de
gelo, me trazia à boca ainda adormecida uma colher de mel, era a mesma mão que
manejava a faca.
E agora que eu já
cresci, e me fiz velho, e descobri que todas as galinhas têm alma igual à
minha, como é que eu resolvo isto?