Do grupo todo, um dos primeiros a cair foi o Barbeitos. Tinha raízes à beira do rio Minho mas parecia alfacinha de gema. Vaidosão, amalandrado, matador, não tinha ainda uma visão do mundo, e era como se a tivesse. Até do capote da ordem fazia arma de arremesso. Transformava-lhe a gola de cardeal em setas de Cupido, no seio das melancólicas burguesitas de Lisboa. Era o meu reverso da medalha.
De brevet ao peito, destinaram-no à caça, o que era um sinal de distinção. E andava ele por lá, a encaixar os prolegómenos num T 33 da guerra da Coreia, quando certo dia as coisas correram mal. A turbina, muito antiga, era um vidrinho de cheiro, não sejas bruto comigo que eu não gosto! Era atreita ao flame-out, que significa Apagou-se! Nesse dia foi mais longe e pegou fogo.
A pista estava a dois passos, mas o instrutor deu ordens de ejecção. O Barbeitos accionou uma alavanca, levou um chuto no cu e logo se viu cá fora, de cara ao vento, sentado na cadeira. Mas a descida foi vertiginosa, porque o sistema falhou e agrilhoou-o ao assento. O pára-quedas não podia abrir, o Barbeitos acabou desconjuntado.
Lá de longe, emocionado no meio do Atlântico, eu dediquei-lhe um disco dos Yardbirds, que encontrara no PX americano. Ele havia de gostar. Eram umas aves de pátio que só mais tarde conheci melhor, no Blow-up. Essa beleza de filme do Antonioni, que é a História dum Fotógrafo.
Eu são sei se o Barbeitos gostou dos Yardbirds. Mas a beleza do filme não chegou a vê-la.