Seja a pé, seja a cavalo, passo muito do meu tempo a
carpinteirar frases, a pesar palavras, a medir-lhes timbres, harmonias e
rigores. Quando vou na estrada, sucede-me dar mais atenção a estas ocupações
do que ao percurso. E utilizo um pequeno gravador de mão, para que as ideias
não fujam.
Um dia vinha do Porto, com 50 quilómetros para fazer até
Albergaria, e entrar na A25. A dada altura reparei na paisagem e não a reconheci.
Hesitei, pus-me a olhar, pouco depois chegava à Mealhada.
Insultei-me agrestemente, só me restava encontrar
alternativa. Mas há males que vêm por bem. Acabei a empanturrar-me no Pedro dos
Leitões, esse luxo que me não fazia falta.