Lolita
A adolescente pica a
senha no visor e avança pela coxia. Tem um ar um tanto produzido e o visual
gótico destoa. Veste de preto integral, e a mochila avantajada que tem
pendurada às costas dificulta-lhe a manobra. Traz cuidada a flor da face,
rigorosa, maquilhada. Quase brilha, na geral vulgaridade. Ocupa o lugar em
frente, dentro da sua redoma, vê-se bem que vem trancada numa filosofia.
De peito afogado em
véus, veste uma saia de bicos, por baixo duma nuvem de organdis. Traz muitos
anéis nos dedos, talvez de aço, e símbolos esotéricos a pendular ao pescoço. Os
traços negros que lhe ornamentam as pálpebras dão-lhe um toque de vampiro
inofensivo.
Quando arrisco se já
leu o Nabokov, diz que não gosta de ler. – E viste o filme?! – Qual filme?!
Segue a escola japonesa que frequenta na Internet.
Cá fora vejo-a melhor.
Tem pernas tortas, cambadas, e enviesa os pés para dentro. As Doc Martens são
imitação chinesa.