(...) Trata-se
daqueles programas, reportagens e concursos
frequentados por pessoas que são submetidas à
deformação pelos próprios apresentadores,
repórteres e entertainers para satisfazer os ditames
televisivos do expressionismo grotesco. O povo
construído pela televisão é degenerado, ridículo,
monstruoso. E os seus criminosos construtores têm
nomes publicamente conhecidos e sucesso alargado:
são as Júlias, as Luísas, os Joões, os Manueis e os seus
directores de programas, produtores, chefes,
empresários, até ao topo da hierarquia. Há o “povo”
que vem aos estúdios dos programas da televisão
(quase sempre um “povo” suburbano que já conhece
bem os códigos da televisão e sabe imitá-los); e há o
povo que a televisão visita no seu habitat natural,
geralmente os recantos profundos do país onde se vai
em busca de arquétipos. Um e outro são descaradas
mentiras, falsas construções que deformam até à
degradação. (...)
[António Guerreiro, Ypsilon, hoje]