sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O povo da televisão

(...) Trata-se
daqueles programas, reportagens e concursos 
frequentados por pessoas que são submetidas à 
deformação pelos próprios apresentadores, 
repórteres e entertainers para satisfazer os ditames 
televisivos do expressionismo grotesco. O povo 
construído pela televisão é degenerado, ridículo, 
monstruoso. E os seus criminosos construtores têm 
nomes publicamente conhecidos e sucesso alargado: 
são as Júlias, as Luísas, os Joões, os Manueis e os seus 
directores de programas, produtores, chefes, 
empresários, até ao topo da hierarquia. Há o “povo” 
que vem aos estúdios dos programas da televisão 
(quase sempre um “povo” suburbano que já conhece 
bem os códigos da televisão e sabe imitá-los); e há o 
povo que a televisão visita no seu habitat natural, 
geralmente os recantos profundos do país onde se vai 
em busca de arquétipos. Um e outro são descaradas 
mentiras, falsas construções que deformam até à 
degradação. (...)
[António Guerreiro, Ypsilon, hoje]