quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Relvas e Ruas

A insolvência de dezenas de autarquias, que finalmente estoirou, levanta-nos três questões. À primeira sublinha a gestão aventureira e o duvidoso papel dos bandos autárquicos do PPD, ao serviço do poder local durante as décadas democráticas. Sempre dirão os vendedores de banha de cobra que também nessa questão o PS é igual ao PPD, se não for ainda pior. Mas essa jaculatória já é um lugar-comum do ritual sectário, e não resiste a uma isenta contabilidade.
À segunda levanta-nos a questão da organização do território, e da reforma administrativa dos municípios, tão aconselhável como necessária, tão oportuna quanto urgente. A que existe já terá 200 anos, é mais que um anacronismo.
E à terceira escancara-nos aos olhos a lastimosa política que o governo praticou nesta matéria, pela mão de Relvas e Ruas.
Há 4 anos, quando a troika aí entrou, pôs a questão nos seus devidos termos. Talvez fosse a única questão em que a troika estava cheia de razão! Era preciso reorganizar o território e combater a hidra, reduzindo os municípios. Mas os cretinos que nos têm governado meteram o rabo entre as pernas, e reduziram o assunto à liquidação dum milhar de freguesias. O país não ganhou nada com isso, nem a hidra perdeu qualquer cabeça. Quem perdeu foram as populações mais isoladas, que viram agravada a indiferença e o desprezo do Estado pelas suas vidas. Ficaram elas mais abandonadas. Mas foi resguardado o feudo, e alimentado o lóbi autárquico do PPD.
Salvo raras excepções, nas freguesias não se edificam condados, embora a compra de votos nas eleições seja um lugar mais comum do que parece. Ao contrário dos municípios, que muita vez têm sido lugares de corrupção e nepotismo, de compadrios manhosos, de negociatas obscuras e de feudos de caciques.