A insolvência de dezenas de autarquias, que finalmente
estoirou, levanta-nos três questões. À primeira sublinha a gestão aventureira e o duvidoso papel dos bandos autárquicos do PPD, ao serviço do poder local durante
as décadas democráticas. Sempre dirão os vendedores de banha de cobra que
também nessa questão o PS é igual ao PPD, se não for ainda pior. Mas essa
jaculatória já é um lugar-comum do ritual sectário, e não resiste a uma isenta
contabilidade.
À segunda levanta-nos a questão da organização do
território, e da reforma administrativa dos municípios, tão aconselhável como
necessária, tão oportuna quanto urgente. A que existe já terá 200
anos, é mais que um anacronismo.
E à terceira escancara-nos aos olhos a lastimosa
política que o governo praticou nesta matéria, pela mão de Relvas e Ruas.
Há 4 anos, quando a troika aí entrou, pôs a questão nos
seus devidos termos. Talvez fosse a única questão em que a troika estava cheia
de razão! Era preciso reorganizar o território e combater a hidra, reduzindo os
municípios. Mas os cretinos que nos têm governado meteram o rabo entre as
pernas, e reduziram o assunto à liquidação dum milhar de freguesias. O país não
ganhou nada com isso, nem a hidra perdeu qualquer cabeça. Quem perdeu foram as
populações mais isoladas, que viram agravada a indiferença e o desprezo do Estado pelas suas
vidas. Ficaram elas mais abandonadas. Mas foi resguardado o feudo, e alimentado
o lóbi autárquico do PPD.
Salvo raras excepções, nas freguesias não se edificam
condados, embora a compra de votos nas eleições seja um lugar mais comum do que
parece. Ao contrário dos municípios, que muita vez têm sido lugares de
corrupção e nepotismo, de compadrios manhosos, de negociatas obscuras e de feudos
de caciques.