Estilhaços
Foi então, a meio duma
tarde, que chegou um alferes do batalhão da Cuimba, com o pelotão de morteiros.
Tinha um vago tique aristocrata, amamentava exóticas ideias monárquicas, e
frequentava o quarto ano de medicina quando o despacharam para os sertões do
Congo.
Estacionou os dois
burros do mato em frente do que sobrava da sé catedral resumida a umas paredes,
mal saudou os aviadores que despejavam bidões de gasolina nuns aviões cobertos
de poeira e dirigiu-se a casa.
A mulher era legista,
praticava de notária, servia de magistrada. Morava numa casa da avenida e
estava ausente em Luanda, na companhia dum alferes médico.
O artilheiro reuniu o
pelotão, montou nos burros do mato e regressou à Cuimba. Mandou formar no meio
do terreiro, meteu uma bala na câmara da Walther que lhe pendia à ilharga, e
descarregou nos miolos os nove milímetros dela.
Uma semana depois a
história já estava morta. Ninguém gosta de viver com estilhaços que matam.