quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Os olhos e o rio

O rio corre, apressado, em frente do varandim, e ferve espumas nas pedras do leito. E quanto mais depressa corre mais frenético se torna e mais espumas ferve. E maior é a alegria dos meus olhos, que o vêem a passar. E mais depressa chega aos campos de Montemor, antes de entrar na foz.
Quem nada se alegra ao vê-lo são os olhos dos camponeses dos arrozais, porque lhes entra em casa, e lhes leva lama, e tristeza, e abandono. Os meus só o vêem a ferver ali nas margens, rodeado de mimosas.
Mas o rio é sempre o mesmo. Os olhos é que mudaram, ao vê-lo.