quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A pasteleira

Era novato, o Zé, antes de partir para o Congo, donde regressaria adoentado. E decidiu-se pelas artes de barbeiro. A barbearia era a loja da ruela, por baixo do alpendre. E o negócio corria tão bem ao Zé, que o levara a comprar a bicicleta a um de Vale de la Mula. Um dia meteu o António para ajudante, e os dois expandiram-no a Alfaiates.
Mas a jornada era longa, vinte quilómetros de estrada para os lados do Sabugal. E só havia aquela bicicleta, uma pasteleira inglesa que levava atrás os apetrechos do ofício.
De modo que chegavam ao Carril e montavam a estafeta. O Zé recebia o testemunho, pedalava os seus cinco quilómetros, encostava a pedaleira à berma e continuava a pé. Vinha António, pegava no testemunho, ultrapassava o irmão e só parava uns quilómetros adiante. E a maratona seguia, até chegar ao destino.
Mas temeram pelo saco dos apetrechos, e ele passou a andar aos ombros do caminheiro, era melhor. Nunca mais ficou atado à grade da pasteleira, no caminho de Alfaiates.
E ainda hoje andavam nisto, se acaso no paraíso não tem havido maçãs!