Já nos bastava que o Eco tivesse deixado O Nome da Rosa. Mas deixou mais:
« (...) Em Portugal, não faltam casos de imprensa que existe para intimidar alvos devidamente seleccionados. Todos conhecemos situações dessas. Mas ao contrário do livro de Umberto Eco, por cá é para vender papel, fazendo sangue... Achei curiosa uma das descrições que Babelia singularizava: "O seu repórter mais aguerrido, de nome Bagagadocio, exclama em plena febre investigadora que "os jornais não estão feitos para difundir, mas para encobrir notícias". E num outro passo: "Sucede o facto X, não podes obviá-lo, mas, como põe em apuros demasiada gente, nesse mesmo número marcas uns grandes títulos, de pôr os cabelos em pé, e a tua notícia se afoga no grande mar da informação".
No livro de Eco, "o director da redacção fantasma veta inclusivamente nos números zero qualquer notícia que possa beliscar os interesses do proprietário, quer se trate do assassinato do juiz Falcone às mãos da Mafia ou dos subornos a políticos para conseguir contratos: a realidade é apenas um elemento aleatório que deve submeter-se à vontade de amedrontar". O escritor César António Molina, que comenta o livro, lembra: "A queda da imprensa em mãos irresponsáveis é a mordaça que os corruptos impõem à democracia e significa a destruição das raízes da própria democracia. Um jornalismo que só serve para fabricar dossiers. Esta falsa novela de Eco (...) é todo um requisitório contra o estado de ruína em que se tornou a sociedade italiana desde o fascismo até aos nossos dias. (...)".
Visto aqui. À atenção do Correio da Manha, do SOL, do I, do Observador, e mais de quem enfiar a carapuça.