Continuação. A ler com filtro.
1 - (...) A 12 de Junho de 1985 era assinado em Lisboa o Tratado de Adesão de Portugal à CEE. (...) Medeiros Ferreira conta-nos como tudo se passou: "A entrada de Portugal na pequena Europa dos nove também tinha subjacente esta possibilidade de retirar meios financeiros do exterior para o desenvolvimento económico e social do país, além de facilitar a vinda de grandes investimentos privados. Tudo isto ocorreu com naturalidade até ao grande alargamento da União Europeia aos países de Leste. A entrada de roldão dos países que saíram da órbita soviética alterou por completo o centro de gravidade da União Europeia. E a crise financeira internacional a partir de 2008 revelou as fragilidades em que assentava a zona euro. A UE passou a exigir muito mais do que oferecia em troca. Daí que o seu prestígio e poder de atracção tenham decrescido nos últimos tempos."
2 - (...) Compare-se a elaboração do Tratado de Maastricht, ou a invenção do euro, com as negociações, no séc. XVIII, para a união federal que daria origem aos Estados Unidos. Qualquer pessoa pode ler com proveito uma série de 85 ensaios, publicados num jornal de Nova Iorque, destinados a persuadir o público dos estados americanos, independentes da Inglaterra, de que a ratificação duma Constituição era um gesto positivo. (...)
"Com igual prazer, noto igualmente que a Providência se dignou dar a este país unido um povo unido - um povo que descende dos mesmos antepassados, que fala a mesma língua, que professa a mesma religião, que acredita nos mesmo princípios de governo, muito semelhante nas suas maneiras e nos seus costumes (...)."
O que se passa na UE é diferente. (...) "Excepto num sentido muito geral, a cultura política europeia não pode ser olhada como uma unidade. Não há uma identidade da prática política ou legal, dos costumes e das tradições. Não há assim uma verdadeira base para o federalismo."
3 - (...) Não se deve tão pouco minimizar o facto de a União Europeia ter auxiliado nações, como Portugal, com um passado autoritário, Uma coisa é nascer-se num país como a Inglaterra, no qual o liberalismo e a democracia são de há muito respeitados, outra num país onde o clientelismo e o arbítrio abafaram a economia e a sociedade. (...)
Deveríamos deitar foguetes? Não, até porque o foguetório é o trabalho que a burocracia europeia melhor executa. Bruxelas gosta de secretismo (...). O instinto dos funcionários europeus é o de manter tudo dentro duma caixa-forte. Para eles, toda e qualquer crítica à organização mais não é do que um ataque dos media, infiltrados por lobbies anti-europeus. (...)
4 - Muito do que é negativo na UE deve-se à linguagem que os eurocratas usam, a qual reflecte o vazio das suas cabeças. Veja-se o Tratado de Lisboa: até os juristas, especializados em assuntos constitucionais, têm dificuldade em o entender.
Quando, em 2008, a Irlanda se preparava para o referendar, o representante irlandês na Comissão, Charles McCreevy, disse que, dos 4,2 milhões de habitantes do seu país, menos de 250 o tinham lido, e, desses, menos de 25 o tinham compreendido. (...)
5 - (...) Finalmente perguntei-lhe (a Durão Barroso) o que pensava da chamada Estratégia de Lisboa. Foi mais uma vez directo: "Era irrealista".
Quanto à crise económica e financeira, eis o que me disse: "Tudo começou nos Estados Unidos, onde se espalharam créditos tóxicos e onde ocorreram factos de natureza criminal. Os governos de entâo não queriam um supervisor comum. (...)"