« (...) Em muitos estados africanos com recursos naturais, as indústrias do petróleo e mineira estabeleceram-se antes da independência, antes de as nações recém-formadas terem oportunidade de desenvolverem instituições para orientar o bem comum, e de limitar o poder arbitrário. Quando foram descobertos campos de petróleo gigantes no Mar do Norte, em 1969, a Noruega e o Reino Unido tinham em funcionamento as instituições para mitigar a força destrutiva do dinheiro do petróleo. O mesmo não se passou com países como a Nigéria, onde a Shell já extraía petróleo antes de os governantes coloniais britânicos partirem. "Os britânicos e os outros foram como os conquistadores espanhóis", disse-me Gbadebo-Smith, um nigeriano erudito que se licenciou em medicina dentária antes de estudar na Kennedy School of Government em Harvard. "Os poderes coloniais montaram uma máquina, uma máquina para extrair recursos. Quando se foram embora, passou para os líderes seguintes, como o ADN. Em muitos países, os militares tomaram o poder para capturar receitas. É incrivelmente difícil mudar essa estrutura. Os parceiros estrangeiros permanecem com os seus colaboradores. É como um vírus, transmitido do regime colonial para os governantes pós-independência. E estes extractores são o oposto de uma sociedade que é governada para o bem comum, para benefício público."
O arquétipo destes extractores, aqueles que usam a conquista de recursos naturais para promover o poder político e vice-versa, foi Cecil Rhodes. Chegando às planícies centrais daquilo que viria a tornar-se a África do Sul, durante o frenesim de diamantes da década de 1870, Rhodes ascendeu de pequeno garimpeiro a senhor do comércio de diamantes. Fundou a de Beers e, quando foi descoberto ouro mais a norte dos campos de diamantes, lançou a Gold Fields of South Africa, que ainda figura entre as maiores empresas de extracção de ouro, com minas desde a Austrália ao Peru. (...)
Rhodes morreu em 1902, humilhado pelo seu apoio ao desastroso Jameson Raid em território boer. W.T.Stead, o grande jornalista cruzado da Inglaterra vitoriana, chamou a Cecil Rhodes "o primeiro de uma nova dinastia de Reis do Dinheiro, que evoluíram nos últimos tempos para se tornarem os verdadeiros governantes do mundo moderno". Essa descrição ecoa pelo século que se seguiu e continuou pelo novo milénio. A Areva no Níger, a Shell na Nigéria, a Glencore no Congo - estas e outras como elas replicam, com o seu poder absoluto sobre as nações africanas, os impérios que vieram antes delas. (...) Em Angola, outro executivo que tinha observado o grupo Queensway (chinês) a penetrar nos círculos mais próximos do poder e depois lançar a sua expansão pelo continente, disse-me: "Tem tendências megalómanas. É como o Rhodes, tentando conquistar a África outra vez". "Eles são uma companhia imperialista à moda antiga. Têm direitos sobre os minerais e contactos ao mais alto nível nos governos corruptos, o que lhes dá o direito de tirarem o que querem".