quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pai Natal

No princípio, e durante tanto tempo que a memória se perdia nele, eram as alegrias do solstício. Era o sol que regressava, era a luz, era o calor, era o mistério do triunfo sobre a morte. Até que um dia vieram uns pastores que desciam a vereda e regressavam a casa, e acharam tudo normal: um curral onde dormiam gados, e uma família que se abrigou nele, porque a noite estava fria quando as dores chegaram à precária mãe. E tudo era normal, porque os judeus ainda não tinham começado a construir colonatos no deserto onde as pessoas se abrigavam.
Quando a aragem vadia abriu uma aberta naquela escuridão, logo uma estrela se mostrou no céu. Uma estrela brilhante e majestosa, Vénus seria, quem sabe, oportuna mensageira. E por ela se guiaram os três reis que já vinham de longada, montados em camelos, e traziam da Índia, nos alforges, pimentas e canelas.
Foi assim que encontraram um menino deitado numas palhas, e ofereceram-lhe as veniagas que tinham. Mas acharam tudo aquilo normal, porque nesse tempo não havia fraldas descartáveis, e a globalização mal estava a começar.
Foi depois disso que apareceu o Pai Natal, e as prendas no sapatinho à beira da chaminé, e umas renas que vêm da Lapónia aos varais dum trenó a abarrotar de embrulhos. Uma febre! Ainda hoje não queremos outra coisa.