(Cont.)
Sabemos bem que o Camilo tinha que publicar de dia para poder jantar à noite! Mas não sei se precisava de ser tão acintoso, tão intolerante, tão castiço e marialva e miguelista! Tão estreito e tão ultramontano! E, já agora, tão mestre da nossa língua!
«Mulher escritora, por via de regra pouco exceptuada, é um homem por dentro. O coração, que devia ser urna de suavíssimas lágrimas, faz-se-lhe botija de tinta; e as doces penas da alma metalizam-se-lhe aguçadas em penas de aço. O fuso de Lucrécia e da rainha Bertha desfez-se em canetas. Em vez de tecerem o seu bragal, urdem intrigas. Suspiram publicamente em oitavo português , 250 páginas; e, quando não suspiram, bufam cóleras represadas, dizem que têm ideias, que se querem emancipar, muito aziumadas*, naturalistas, com um grande ar de pimponas que entraram no segredo dos processos; e, se não batem nos homens, não é porque eles o não mereçam. O amigo de madame, esse, tem de apanhar do sexo, mais hoje, mais amanhã. (...)
Não há feminilidades que se respeitem desde que a mulher se masculiniza, e, como escritora virago, salta as fronteiras do decoro, sofraldando as fronteiras das espumas das rendas até à altura da liga azul-ferrete. (...)
A favor da senhora Rattazzi têm saído uns poucos periódicos faiantes, sargetas por onde tresandam os seus fedores as fezes literárias de Lisboa. São os órgãos da ralé sarrafaçal,** uns madraços desencadernados que vivem na gandaia política, engenhando repúblicas carnavalescas. É nesses periódicos de mixórdias plebeias até ao asco que o senhor Teófilo Braga se esconde a escrever, como em parede de latrina, uns desabafos pelintras de quem não acha na imprensa séria fontículos por onde supurar o pus. A princesa pode contar com este panegirista. (...)
Dos meus fúteis romances também chalaceia e não anda mal; - que todos os meus livros se adivinham do terceiro em diante: um brasileiro, um namorado sentimental, e uma menina em convento. Cita quatro novelas, e por casualidade nenhuma delas tem brasileiro; porém, quanto a namorados, são tantos que nem a senhora princesa é capaz de ter tido mais. (...)»
E por este pouco vemos até onde Camilo é de fiar. A ajuizar sobre o pobre do Marquês!
*causador de azia (dic.Morais)
**ocioso, preguiçoso, inútil (ibid.)