sábado, 12 de dezembro de 2015

Ninguém pode ter tudo!

Nesse tempo, ao fundo da cascata, à beira do ribeiro que desce a cantochar da serra, havia um jardinzito com sebes de buxo. E uma mesa redonda, de pedra, numa sombra. Hoje nada disso existe.
Mas forçoso era acabar, no Verão, o sétimo ano do liceu curricular. Isto quando a Matemática só me era menos penosa do que os professores dela. Chegara ao meio do ano lectivo e desistira da matrícula ordinária, para poder apresentar-me a exame auto-proposto quando chegasse o momento. Foi nas férias desse Verão!
Ele havia um jardinzito, e a mesa de pedra à sombra, ao fundo da cascata. E havia o Palma Fernandes, um caderno de exercícios práticos. Durante um mês e meio, o mundo inteiro eram eles! E assim foi.
Sintetizei mentalmente sete tipos diferentes de problemas, cada um com um percurso de solução. O resto eram maratonas a exigir especialistas. Quatro deles haviam de me calhar, para me salvar. Calharam mesmo!
Veio o exame, passei nele, cheguei ao fim do liceu com direito a diploma. Barba na cara não parou de me crescer. E nunca mais matutei nas matemáticas. 
Certo dia o Einstein foi passar à minha rua, deitou-me a língua de fora. Ficou célebre e eu não, mas ninguém pode ter tudo.
[Uma das imagens é domínio público. A outra é lembrança antiga dum JJ amigo!]