sábado, 19 de março de 2016

O tempo que era dinheiro!

Vamos lá ver! Não se pode dizer que seja perda de tempo assistir a uma palestra sobre O Jornalismo no Século XXI. O problema vem depois.
O palestrante vem duma universidade, tem mestrados pós-Bolonha, etcetera e tal. E começa a declarar que "a imprensa escrita terminará em 2028". Foi um americano que o disse, logo portanto é verdade.
Traz o pensamento organizado, não improvisa nem hesita. Além do mais tem uma boa dicção, factor não despiciendo. Ilustra o discurso oral com diagramas que projecta num ecrã, cita autores americanos, tem um guião que faz lembrar uma lição à turma. É terminante e é definitivo nas afirmações que faz, que assume como tiradas definitivas. Resumindo: muito embora não pareça, em matéria tão friável, padece duma arrogância muito em voga: aquela dos néscios que só carregam pela boca.
Perante um auditório que é pouco dado à polémica, explica-nos o conceito do "jornalismo do cidadão", (a informação construída de comentários de leitores), mas conclui que todas as experiências conhecidas lá por fora redundaram em fracassos.
Amalgama alegremente informação com conhecimento, sem distinguir os conceitos. E acredita seriamente que "um milhão sabe mais que um", não se estará mesmo a ver?.
Lamenta que o jornalismo destrate a nossa língua, porque a conhece tão mal. E escamoteia que uma coisa arrasta a outra.
A globalização não se discute, nem os seus processos e objectivos. E as novas tecnologias deixarão para trás a imprensa escrita, porque a digitalidade é nova e impiedosa. 
A exploração de recursos, a sobre-população, a exaustão ambiental, a escassez de águas e solos, a entropia da complexidade crescente, a sobrecarga de redes, isso não lhe tira o sono.
Mas donde é que este homem veio e onde vive?! Dum anfiteatro universitário, onde multiplica a ignorância, se não a iliteracia, num crescimento que é exponencial?
É então que damos por mal-empregado o tempo, que é dinheiro. Porque os papagaios todos da escola de Chicago bem fariam em tomar consciência disto, e integrá-lo.