segunda-feira, 14 de março de 2016

Fahrenheit 451

A Latina tinha à minha espera o primeiro dos três volumes duma trilogia de intervenção, sobre o século XX. (É uma edição quase artesanal da Guerra e Paz que me custou uma fortuna. Mas negócios de alma nunca se discutem!). Ela engloba o Manifesto Comunista, o Mein Kampf e o Livro Vermelho do grande timoneiro. Prometeram reservar-me o timoneiro, que sempre me comoveu a campanha dos pardais, o grande salto em frente, o aço em altos-fornos de quintal, e mais que tudo a Revolução Cultural. Ainda hoje me provoca sonhos coloridos, e mais não andei nela nessa altura. Suportei os muitos que lá andavam e depois se reciclaram!

Mas era na FNAC que este filme de culto estava à minha espera: Fahrenheit 451 (Grau de Destruição) adaptado da novela de Ray Bradbury por François Truffaut em 1966, com Julie Christie e Oskar Werner.
Filme dum tempo em que a cultura europeia (mormente o cinema francês e italiano) não tinha ainda perdido a batalha do espírito europeu com a indústria global americana do entretenimento, na grande guerra que o Império desencadeou contra as sociedades dos homens em favor do deus-mercado.
A novela de Bradbury espelha um universo orwelliano, totalitário, que reduz a liberdade e os livros à sobrevivência clandestina dos homens-livro. Ainda hoje, e mais-que-tudo hoje porque chegámos lá, é duma actualidade tão absurda quanto assustadora. Fahrenheit 451 é a temperatura a que o papel se incendeia e começa a arder. E estes são os territórios das artes a sério!!!