sábado, 19 de março de 2016

Crepúsculo

Alto-cúmulos esparsos. O Saturno caladinho. Um Crescente a subir ao plenilúnio. Andorinhas no alpendre. Papoilas de asas abertas, vermelhonas. Maias brancas a tapetar a encosta...
O que é que tu querias mais? Um poeta novo?! Melancólico?! Talvez... 


Poema
O primeiro verso [este] é-nos oferecido.
Valerá mesmo a pena procurar sempre
o segundo [este]?

Pré-língua
Quando o caminho era
carreiro
seguia entre silvas,
paralelo à ribeira, 
antes da curva.
Depois, como uma falésia sem mar.
Lá ao fundo,
o pequeno cemitério
rodeado de muros
por todos os lados.

Quando o cordel era 
nagalho
pendia na loja fria
junto à parede bruta de pedra
anos a fio
à espera de ser útil.

Quando os maus eram 
velhacos
escondiam-se, bêbados,
nas sombras.

Ex-lugar
Da glória antes, só a fachada
e janelas sem janelas.
No corpo oco, a penumbra a céu aberto.
Uma lareira que não recorda já o fogo.
Ninhos de pássaros que nada sabem
ou querem saber.

Fim
E às dez horas da manhã,
no café do bairro,
dois velhos dizem "até amanhã",
como se nada fosse.
Fico subitamente triste, 
como num dia que chegou ao fim
antes de ter começado.