«Sobre a política e o dinheiro
A concentração de riqueza acarreta a concentração do poder político. E a concentração do poder político dá origem a legislação que intensifica e acelera este processo circular. A legislação, essencialmente bipartidarista, impulsiona novas políticas fiscais, alterações nos impostos, regras de governação empresarial e também uma desregulação. A par de tudo isto, verificou-se o aumento drástico do custo das eleições, que deixa os partidos políticos ainda mais à mercê dos "bolsos fundos" do sector empresarial.
Na prática os partidos acabaram por se dissolver, e de várias formas. Dantes, se um membro do Congresso tinha esperança de ascender a um cargo na direcção de um comité ou a outra posição de responsabilidade, alcançava-o pelo tempo de serviço ou pelo trabalho prestado. Em poucos anos, os membros passaram a ter de pôr dinheiro nos cofres do partido para ascenderem na carreira, um tema estudado sobretudo por Tom Ferguson. Foi um processo que deixou os partidos ainda mais dependentes dos bolsos das empresas e do sector financeiro.
Este círculo vicioso teve como consequência uma extraordinária concentração da riqueza, basicamente a favor de 0,1% da população. Entretanto, para a população em geral, iniciava-se um período de estagnação e até de declínio para a maioria. As pessoas sobreviviam, mas através de meios artificiais como o alargamento do horário de trabalho, o recurso ao crédito e ao sobre-endividamento em larga escala e a dependência da inflação de bens, como a recente bolha do sector imobiliário. O horário de trabalho tornou-se rapidamente muito maior nos EUA do que noutros países industrializados como o Japão e as nações europeias. Houve, portanto, um período de estagnação e declínio para a maioria da população, a par duma acentuada concentração da riqueza. Foi o começo da dissolução do sistema político.
Reparem no que está a suceder actualmente. O assunto mais importante em Washington e em que toda a gente se concentra é o défice. Para a população, o défice não tem tanta importância. E tem razão, na verdade não é a questão principal. A questão principal é a falta de emprego, não é o défice. No entanto, há uma comissão dedicada ao défice, mas não existe uma comissão dedicada ao desemprego. A população apoia esmagadoramente impostos mais elevados para os ricos, impostos esses que têm vindo a ser reduzidos drasticamente neste período de estagnação e declínio, e a manutenção dos limitados benefícios sociais. As conclusões da comissão do défice tenderão provavelmente para o sentido inverso. (...)»