Os vícios custam bem caro, há quem sustente ser razoável e salutar que assim seja. Não estou muito seguro quanto a isso. Por puro vício entro na livraria, logo tropeço numa Maria dos Canos Serrados. Um título muito altamente!
Vejo a contra-capa, passo pelas badanas, assalta-me a lembrança duma tal Mizé galdéria, que um dia trouxe para casa e há-de andar por aí. Quis ver na altura o andar da carruagem, mas a viagem deu-me em estampanço na primeira curva. E depois de folhear um par de páginas, concluí que desta vez seria a morte certa.
Quem sabe de mercados fala dos nichos deles. Mas neste espaço ao mercado chamam-lhe Literatura, e é pelas esquinas dela que vicejam muitos criativos. Em conteúdos e formas, em substâncias e vazios, por força há-de ser aqui o beco da javardice.
No que a tais criativos diz respeito, já se viu como baralham facilmente a criatividade e o estado das cuecas, a modernidade e o rabo mal lavado. O cu com as calças, enfim, uma questão já velha! Mas deixemos cada um pastar no prado mais a gosto, sem moralismos falsos.
Já quanto aos editores, neste caso a Alfaguara, protestemos em dobro. A um lado por reproduzir frases de encómio, que algum incauto crítico cedeu em obra antiga, como se desta fossem. Cheira a abuso de confiança, a vã invocação do santo nome de deus. E a outro por assim avacalhar, por uns míseros patacos, o que já foi tarefa de nobreza.
De forma que, leitor empedernido, se te quiserem mostrar, também em literatura, a vida tal como é, diz-lhes que já estás servido, e com vantagem, pelo Correio da Manhã e a grelha da TVI. Digo-te isto para teu bem. E para veres como o lixo atrai as moscas, ora toma, e toma, e toma.