Era uma vez um asno que um dono tinha. Não é que fosse um burro de Apuleio, mas o asno era feliz. Foi à escola e aprendeu uns rudimentos, lia e escrevia histórias da carochinha. É certo que tinha falhas, mas não se pode ter tudo. E o asno acabou mesmo a escrever num jornal.
Mas tinha um senão infausto. Era a palha que o seu dono lhe servia, e lhe deixava um fastio.
Um dia o asno entrou numa loja de chinês e comprou uns óculos verdes, que faziam autênticos milagres. Transformavam a palha costumeira na erva fresca dum prado. Ficou tão contente o asno, passou a viver nas nuvens. Pelo menos era daí que lhe chegavam as crónicas!
Na falta de um link, transcreve-se esta amostra irrecusável. A contra-gosto, mas com muito respeitinho.
"Meu caro Passos Coelho, continuo a ter consideração por V.Exa. Aceitar governar Portugal no pós-Sócrates foi mais ou menos como aceitar treinar o Benfica no pós-Artur Jorge. E para mal dos pecados dos seus inimigos internos e externos, este respeito aumenta quando percebemos que a sua governação começa a dar resultados. (...)
O que é espantoso é que V.Exa não consegue colocar este e outros sucessos na agenda. Eu sei que há uma má-vontade epidérmica dos jornalistas ante um governo direitolas, mas isso não explica tudo. V.Exa e o seu partido têm o problema contrário do PS e do seu antecessor: sabem para onde vão, mas não têm jeito para o discurso político. (...)
Sugiro-lhe, portanto, uma mudança de estilo para o segundo ano do governo com mais coragem em várias décadas: fale menos, e quando falar explique as coisas em português e não no latim dos economistas.(...)
Boa parte das pessoas ainda não percebeu a crise e a consequente terapia, porque V.Exa parece um daqueles padres antigos a fazer homilias em latim."