quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A alma e o discurso

Forçosamente vê-se privado de alma, um homem sem discurso que a exprima. E vice-versa, pelo discurso se pode avaliar a dimensão que ele alcança.
Alheio a quadraturas partidárias, sou dos que pensam que a direcção actual do PS, e que o PS elegeu, é o pior que nos podia ter acontecido. É uma direcção de burocratas redondos e rotineiros, de carreiristas encaixados, de mansos consensuais, de gente do aparelho incapaz duma faísca e duma ideia. Exactamente por isso é que o aparelho a elegeu, para sua própria bonança. Mas os nossos tempos são de tempestade.
Vem isto, bem ou mal, a propósito dumas frases de Francisco Assis, que transcrevo do PÚBLICO:

"(...) Há poucos sítios como Vila do Conde e não há, certamente, nenhum lugar como as Caxinas. (...) Lembro-me do grande acontecimento ao anoitecer - pesadas malas de latão agarradas pelas mãos de pescadores que partiam. Percorriam as ruas com uma gravidade de personagens de film noir, iam ao encontro do mar e finalmente embarcavam. As mulheres ficavam, como se numa terra destas fosse possível ficar. 
São seres trágicos, as mulheres das Caxinas, vogando entre a aritmética da economia doméstica e a devoção mística ao Senhor dos Navegantes. O vento norte percorre-lhes eternamente os cabelos, os olhos exibem uma autoridade matriarcal que nunca se desvanece, nem sequer nas horas de angústia quando "mar chão" dá lugar ao "mar cão". Os homens partem para o mar, para a imponderabilidade, o que os revela frágeis e até um pouco infantis. Elas ficam. E ficar significa tudo - a casa, os filhos, a subsistência, a ilusão de um futuro. Elas não ignoram a pior das sentenças - sabem que sobreviverão à tragédia. É esse o seu destino. (...)