O pássaro ficou a debicar a
última perna dum caranguejo do lodo, e o atirador abriu uma lata de sardinhas
que tirou do bornal.
- Mais me valia um pássaro na
mão! – disse o soldado de infantaria.
- Antes te acudiram dois a voar!
– disse o jagudi dos pântanos.
E assim ficaram. Mas quando o
soldado atirador deu um piparote na lata vazia, um raio de sol fez ricochete no
fundo da lata e regressou ao infinito.
Atentos ao sinal estavam dois
bombardeiros de focinho comprido, que patrulhavam as nuvens e tinham ordens
para abater tudo quanto mexesse. Vieram como duas setas, de nariz esticado e
sorrateiro, rasgaram o ar por cima do embondeiro e largaram as duas bombas de
napalm.
Iguaizinhos na vida, o jagudi e o
soldado de infantaria mantiveram-se idênticos na morte. Só divergiam na
metafísica.
***Eco de 2002
***Eco de 2002