Eu estou como dizia o outro, também não percebo nada de finanças!
Mas duas coisas me cheiram.
A primeira é que o caldo, na panela europeia, vai azedar a sério.
A segunda é que a máscara (já triste, mas enfim!) do Cavaco, deste governo, deste PPD e restante canalha, vai começar a cair.
As suas golpadas e trapaças de há um ano, que levaram às eleiçoes, as suas campanhas inauditas de anos a fio dum ódio paranóico centrado num só homem, que era primeiro-ministro, só vingaram e só se aguentam com a nossa ignorância, a nossa iliteracia, a nossa confusão e o nosso desinteresse.
Vai perceber-se melhor que o derrube do governo de Sócrates, no ponto em que as coisas então estavam, foi uma traição ao país e um profundo dano para os portugueses.
Vai entender-se por que motivos o banqueiro Espírito Santo passou pela reunião do PPD, onde se decidiu então, pretextando invenções, recusar o PEC IV e forçar Sócrates à renúncia.
Vai perceber-se melhor que o verdadeiro busílis desta desgraça toda nunca foi o viver do povo acima das possibilidades.
Vai perceber-se melhor que o verdadeiro busílis foi sempre outro: como pôr o povo a pagar os desmandos irresponsáveis dos financeiros, dos tubarões magnatas, dos banqueiros gananciosos, esses mesmos que na Wall Street e na City geraram os vírus que alastraram ao mundo em 2008 com o sub-prime, e infectaram o equilíbrio financeiro, arruinaram as economias, levaram a Islândia à glória, e a Irlanda, e a Grécia, e Portugal, e agora a Espanha, e os outros que se seguem.
Vai perceber-se melhor que o verdadeiro objectivo desta gente esteve apenas em convencer-nos de que nós é que somos responsáveis pela fome a que eles nos condenam, porque gastámos demais.
E vai tornar-se cada vez mais claro que este bando de canalha que à falsa-fé nos chegou ao governo, nunca teve um desígnio para o país, nem um programa para a vida deles, quanto mais para a nossa. O que teve sempre foi o papel de, a pretexto das imposições da troica, cuja presença exigiu e de que precisava como de pão para a boca, a tal pretexto retirar direitos ao trabalho, diminuir salários já precários, desregular contratos colectivos, criar desemprego e desintegração social, isolar cada trabalhador no seu próprio desespero e torná-lo indefeso, dissimular os interesses do capital e arruinar as funções do Estado que são a única defesa dum povo miserável, na escola pública, no centro de saúde, na assistência social. Fazer a pretexto da troica aquilo que não podia fazer por si: inverter o Abril que aí passou.
Vai ser mais claro que esta gente não tem como programa governar para construir um país, muito menos em democracia e liberdade, mas governar para implantar uma ideologia em que cada um está entregue a si próprio, e todos nós ao serviço de um não localizado poder total e absoluto.
Vai ser mais claro que esta gente vem apenas dar continuidade a um processo ideológico que começou com Reagan nos anos 80 (em meses desarmou completamente os sindicatos da aviação civil, ainda hoje na América um comandante de bordo ou o controlador de tráfego arranjam segundo emprego para sobreviver, desregulou, liberalizou, desindustrializou, deslocalizou, transformou Detroit no deserto que é), que começou com Thatcher na mesma altura (em 6 meses destruiu os sindicatos mineiros, fora o resto), que começou com a queda do muro em Berlim, o qual representou, enquanto não faliu, o único fire-wall contra a ganância selvagem da finança.
Vai ser mais claro o que esta gente pretende: impor-nos os mesmos princípios e valores que deram origem à catástrofe actual e ao desespero do povo.
Vai ser mais claro que os governos de Sócrates, por mais variados e graves que tenham sido os erros cometidos, não traíram o país nem os portugueses. Quiseram servi-los, e abrir-lhes um futuro que eles nunca tiveram. Por isso mesmo foram queimados lentamente, durante muitos anos, com um ódio persistente, pelas cáfilas várias que há séculos se alimentam da nossa miséria.
E vai também ser mais fácil ver até que ponto uns imbecis que ocupam aí o lugar da oposição, e se dizem adeptos da transformação revolucionária da vida, afinal, quando nós precisamos dum sinal, duma orientação, no momento crucial duma escolha... eles atam-nos as patas num barbante e deixam-nos à porta do talho, como fizeram há um ano atrás.
Vai até ser mais fácil entender as misérias deste PS, que depois de Sócrates preferiu uma direcção de mansos, de encaixados, de falsos cosmopolitas bem comportadinhos. Para nosso mal colectivo, para gáudio desta canalha.
´Vai ser mais fácil começarmos a abrir o entendimento destas coisas todas, depois do ponto em que a Espanha está. Honra lhe seja feita. É que a Espanha é a 4ª economia europeia. E perante o caso dela, os dirigentes da Europa não podem continuar a encanar a perna à rã. Enquanto a Grécia arde. Enquanto os portugueses são assaltados. Enquanto gemem os míseros irlandeses. Enquanto os pequenos são esmagados.
Tem que passar ainda muito tempo, mas eu no lugar do Relvas torcia o nariz. O Passos já começou a ladear, e do Gaspar nem vos conto. É que tudo quanto ele diz contraria o que a Espanha está a fazer.