sábado, 16 de junho de 2012

Os trafulhas merceeiros

O Passos Coelho é um iletrado que anda agora a aprender a gramática e uns tiques de retórica. Mas nasceu com o cu para a lua, numa noite dum sertão.
A sua sorte maior deve-a ele a uma fada-madrinha. É o Marco António Costa, um rapaz pequeno que usa barbas. Estava há uns tempos à janela a ver passar o tempo, viu passar o cavalo do poder (como dizia o outro), e foi dali esporear o Passos:
- Ou tens eleições no país ou no partido, é só escolher!
Ora foder por foder, que se foda o país, decidiu logo o inspirado Passos. Depois foi só aldrabar a história do PEC IV, provocar eleições no país e ganhá-las. Isto para não ter eleições no partido, que por certo perderia. E tudo isto passa por natural, num vetusto país de indigentes muito antigos.
Foi assim que um simples passe de mágica pôs tudo na mão do Passos:
- um governo onde não falta o Relvas e o Gaspar: um serve de bête-noire que reserva o odioso das funções, tem estômago amoldado; o outro faz o papel do podengo, que foi copiar a uns livros a selvajaria ideológica e lhe monta uma guarda salivante;
- um presidente sem honra nem vergonha, que lhe desbrava o terreno, enquanto vai largando flares pelo ar, para confundir os mísseis inimigos;
- uma maioria que lhe garante afável apoio parlamentar;
- uma oposição de mansos, que esgrime salamaleques e volteios, quando não se diverte em fogos de artifício;
- e finalmente a inigualável troica, um papão culpado de impor por fora todas as malfeitorias.
É o que se passa com a reforma judicial, que extingue 54 tribunais no interior.
Ora os portugueses do interior já não tinham padre, que os não há.
Já não tinham escola, que fechou.
Já não tinham presidente da junta de freguesia, mais de mil deles serão extintos no Verão.
Já não dispunham de médico à mão, por ser um desperdício caro, um centro de saúde.
Já não tinham comboios, que as linhas deficitárias foram abandonadas, e as restantes são terreno de manobras do sindicato dos maquinistas.
Agora vão ficar sem tribunal, por causa da poupança de recursos.
Do conceito de país, só ficam os portugueses com uma bandeira desbotada, para a enforcar num pau. Mas a senhora ministra da Justiça já mandou esclarecer que a reforma judicial vai potenciar a consolidação do interior do território nacional. É assim a linguagem deles.
Nesta contabilidade de merceeiros trafulhas, há séculos que Portugal inteiro, governado pelos avós deles, só tem dado prejuízos. Mas eles sabem-no bem e não querem outra coisa. Alimentaram-se disso e sempre nos culparam, que comemos demais e somos burros. Mas nunca o disseram tão clarinho como agora. E surpreenderam o comité central, que não estava à espera disto.