Banksters
Os bancos portugueses estão
sem dinheiro e perderam a credibilidade. Limitam-se agora a sugar os recursos
duma economia que deviam apoiar mas apenas parasitam.
Estão hoje, na generalidade,
descapitalizados. A abarrotar com créditos incobráveis, os bancos escondem
ainda uma bolha imobiliária gigantesca, resultante de empréstimos mal
concedidos e até arbitrários.
Depois de anos de má gestão e
escândalos, os bancos estão agora de mão estendida. Mais uma vez, o estado
português virá em seu auxílio, desviando recursos da economia real. Dos 78 mil
milhões recebidos da troika, cerca de quinze por cento destinam-se a apoiar a
banca. E adivinha-se que nem sequer será pela via de empréstimos, pois os
bancos não quererão devolver o dinheiro. Será em alguns casos sob a forma de
aumento de capital, mas sem que o estado sequer intervenha na gestão. O estado
paga, mas não manda.
Estas situações de
favorecimento ao sector financeiro só são possíveis porque os banqueiros
dominam a vida política em Portugal. É da banca privada que saem muitos dos
destacados políticos, ministros e deputados. E é também nos bancos que se
asilam muitos ex--políticos.
Alguns, mais promíscuos,
mantêm ligações ao sector financeiro em simultâneo com o desempenho de funções
públicas. Há situações que assumem mesmo foro de indecência, como a de Vera
Jardim, que acumulava a presidência da comissão parlamentar de combate à
corrupção com a superintendência do Banco Bilbao Viscaya; ou a do deputado
Frasquilho, que integra o grupo encarregado de fiscalizar o plano de
assistência financeira e trabalha no BES, potencial beneficiário desse mesmo
programa. Até na supervisão, o insuspeito Banco de Portugal acolhe nos seus
órgãos sociais celebridades ligadas à banca privada, como António de Sousa ou
Almerindo Marques. Incumbidos de se pronunciarem sobre a actividade do banco
central, controlam a entidade que supervisiona o sector onde trabalham.
Com estas artimanhas, os
banqueiros dominam a vida política, garantem cumplicidade de governos, neutralizam
a regulação. Têm o caminho livre para sugar os parcos recursos que restam. Já
não são banqueiros, parecem gangsters, ou seja, banksters.
Paulo Morais
Correio da Manhã.19Junho2012