terça-feira, 19 de junho de 2012

É pouco

Dou comigo a pensar que um dos males do nosso país é simplesmente a incompetência, a sarna desse princípio de Peter.
Como leitores, seremos exemplares. Mas passamos a escritores e no mais comum dos casos o melhor será esquecer-nos.
Somos exímios a limpar um chão. Se chefiarmos um balcão, a confusão instala-se.
Enquanto somos taratas, tocamos a corneta exemplarmente. Passamos a furriéis e é uma desgraça. 
Dirigimos a nossa freguesia sem reparos. Mas ao subirmos à presidência da câmara falhamos.
Mandamos na secção e é um sucesso. Mas dirigimos a empresa como carniceiros. 
Cumprimos bem ou mal como advogados. Subimos a deputados e é uma vergonha.
Fazemos pela vida lá no bairro, às vezes brilhantemente. Se nos levam a ministros, eu nem me quero lembrar.
Cumprimos a falar de Economia na marquise da travessa do Possolo. Quando nos levam para o palácio de Belém somos um perigo público.
Na movida social e financeira chegamos a ser estrelas. Subimos a chefes do governo e metemos nojo aos cães.
À medida que passam os nossos anos democráticos, pior é o panorama, mais vai baixando a fasquia.
Mas talvez haja duas excepções a esta regra geral, que escapam à sarna da nossa incompetência. 
Na vida pública, é o desempenho da nossa presidenta da Assembleia da República. 
Na vida privada, é a notável prestação dos nossos vigaristas.
Em todo o caso, convenhamos que é pouco.